A desinformação forte e a carne fraca

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista – 

A operação “Carne Fraca”, da Polícia Federal, contribuiu ainda mais para a desinformação da população. Um caso investigado no Paraná tornou-se nacional e até mundial, dadas as proporções que tomou. As redes sociais, desta vez, uniram muita gente de esquerda ao povo de direita – muitos exteriorizando o sentimento de “lincha, acaba com eles, incendeia e, depois, prenda.”.




A Internet faz com que muitas pessoas pensem antes com a ponta dos dedos  e depois com o cérebro, sem o distanciamento que casos como esse merecem. Ninguém em sã consciência vai defender a venda de carne deteriorada, mas, certamente, a maioria deveria defender a indústria nacional como um todo, cobrando investigações sérias, sem avacalhações, com uma visão da floresta e não só de algumas árvores.

Depois de dois anos de investigações, a Polícia Federal apresentou o escândalo da “Carne Fraca, com alvo em 21 unidades de 4837 espalhadas pelo país. Ou seja, menos de 0,5% do total. Foram envolvidos 33 funcionários do Ministério da Agricultura, de 11.000, configurando 0,3% do total. Que sejam punidos deputados dos partidos envolvidos, funcionários públicos e dos frigoríficos. Mas, a coisa foi globalizada até o ponto de se colocar sob suspeita toda uma  rede de produção. Ou seja, para extirpar o carrapato, mataram a vaca. Aí tem coisa.

Certa vez, na década de 90, fui fazer uma entrevista com o dono de uma gráfica em São Paulo. E, naquele cafezinho pós-entrevista, chegamos ao tal papo da falta de autoestima do povo brasileiro e de um sentimento nacionalista, de defesa de nossas instituições. Nessa conversa, o executivo contou que tinha ido aos Estados Unidos e, numa noite, no hotel em que estava hospedado, daqueles que fecham o serviço às 23 horas, restando apenas um  guarda de segurança no térreo, sentiu sede e verificou que o frigobar do quarto estava sem água e refrigerante. Foi até o corredor, onde havia uma máquina de refrigerantes, colocou a moeda, mas a lata não caiu. Desesperado, balançou a máquina de uma forma tão brusca que caiu não só o refrigerante, mas também a cestinha repleta de moedas. Pegou o refrigerante, a cestinha com moedas e levou para o quarto.

No outro dia, contou o ocorrido ao gerente do hotel, que fez questão de contar moeda por moeda, sempre de olho no brasileiro, e perguntando repetidas vezes como se deu o fato. Cabreiro com aquela rispidez, o empresário questionou o gerente, que afirmou: ”Nada contra o senhor, pelo contrário. A indústria está em campanha para aumentar o preço do refrigerante. O Senado não aprovou o primeiro pleito, pois a inflação beira o zero. Depois disso, estão surgindo, inesperadamente, várias máquinas com problemas. Querem, com isso, alegar que o aumento do refrigerante é justo em razão do “vandalismo” praticado nas máquinas. Digo uma coisa: não tomo refrigerante, mas aqui, ó (dedo médio em riste), que vamos aceitar o aumento sem critério, com esta medida enganosa! Vou fazer um relatório sobre o que houve com o senhor e enviar ao Senado”.

Não digo com isso, repito, que não devemos ficar em alerta com a indústria frigorífica ou qualquer outra, mas destruir toda  uma cadeia econômica por causa de autuações em apenas alguns poucos locais, como se o caso fosse global, é um absurdo. Que a população fique alerta sobre o desmonte da indústria nacional em benefício de multinacionais. Aqui, ó!

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