A difícil escolha para a esquerda

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De Renato Janine Ribeiro, Professor e Ex-Ministro da Educação –

Bem, basicamente para os progressistas há no Brasil dois caminhos a escolher:

1) Procurar participar da frente mais ampla possível, obviamente incluindo a direita não fascista ou antifascista, para enfrentar o presidente que temos, promovendo seu impeachment ou saída do poder (dentro da lei e da Constituição, que dão elementos mais que suficientes para crime de responsabilidade ou irregularidades na campanha eleitoral). Isso significa aliar-se com quem deu o golpe em Dilma, reduziu os direitos trabalhistas e várias coisas mais. São pessoas ou grupos fortes no PIB mas que se saíram muito mal na eleição (não chegaram, somados, a 10% no pleito presidencial). E não se arrependem do que fizeram para tirar Dilma. É um preço caro.




Só que, se Bolsonaro continuar na presidência, a destruição do país está assegurada. Mais três anos com a turma dele na educação, nos direitos humanos, nas relações exteriores… o que restará do Brasil? Vejam que na saude, onde Mandetta se portou um pouco melhor (mas isso depois de deixar irem embora os médicos cubanos, base do atendimento de dezenas de milhões de brasileiros), Bolsonaro não gostou. Ele quer, sempre, o pior.

Então, a escolha é: faz-se uma aliança com a mídia, o PIB não fascista, os conservadores não arrependidos do golpe e se tira o destruidor – ou não?

2) Caminhar para a esquerda. Exigir os direitos sociais, trabalhistas, outros. Fazer o que os governos Lula e Dilma não fizeram, devido a suas alianças com setores conservadores. Na verdade, não é fazer o que eles não fizeram: é pregar que se faça o que não fizeram (“pregar” porque por esta via a chance de voltar ao poder é pequena e demorada). Entender que, como foram os golpistas que, destruindo a normalidade democrática e legal, prepararam a vitória de Bolsonaro, eles que se entendam ou melhor, se desentendam. Procurar construir uma sensibilidade realmente progressista, mas cujos efeitos vão demorar.

A escolha é difícil, reconheço. A primeira opção talvez traga resultados mais rápidos. Como temos um dos piores governantes do mundo, salvar o país tem tudo para ser prioridade. Mas tem um preço: no limite, estaríamos tirando as castanhas do fogo. Poderiamos estar preparando o caminho para Moro. A Globo, p ex, é contra Bolsonaro, mas quer Moro no lugar – que é responsável pela condenação injusta e ilegal de Lula, ou seja, pela redução do Brasil a uma república de bananas na qual a elite impede uma candidatura com pretextos judiciais, nos colocando junto com a Malásia e a Rússia. Beleza o Jornal Nacional nas últimas semanas, mas ele quer continuar bloqueando as lutas populares. Se tirarem Bolsonaro, em 2022 vão lançar Moro, que tem por único projeto na vida pôr gente na cadeia – e servir à reação.

Por outro lado, na hora em que a direita não fascista ataca os fascistas, vamos ficar olhando? Em 1944, quando os poloneses se rebelaram em Varsóvia contra os nazistas, o Exército Vermelho ficou olhando. O Levante de Varsóvia não era um levante dos melhores seres humanos que existissem. Os rebelados não tinham ajudado os judeus a defender seu gueto, nos anos anteriores. E se revoltaram para garantir que eles, da direita polonesa, governassem o país, libertando-o antes dos soviéticos (mas com a ajuda destes). Por isso mesmo, o Exército Vermelho esperou que fossem destruídos, antes de intervir e acabar com os alemães. Hoje, quando a direita não fascista se mostra antifascista, faremos isso? Não somos vermelhos, não somos soviéticos, não há mais comunismo (exceto como nome).

Mas, enfim, me parece que aí há uma escolha difícil a fazer.

O ideal é nos unirmos sem perder a identidade. É ter uma aliança, sabendo de suas limitações. É tirar o fascismo, mas sabendo que depois a luta será dura.

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