A dor alheia não deveria ser notícia, mas fato a ser reportado com critérios humanizados

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Muitas notícias envolvendo personalidades foram divulgadas na mídia no decorrer das últimas semanas.

Por Adriana Amaral, compartilhado de seu Blog




Começou com o coração do Faustão, depois os dramas do baixista Mingau e atores Kayque Brito e Victor Meyniel. 

E eu nem estou acompanhando a repercussão nas colunas de fofocas, que se alimentam das desgraças alheias…

É claro, quando alguém é famoso, tem fãs ou desafetos, a preocupação é válida assim como a morbidez é presente. 

É natural a curiosidade, e também a torcida. 

Quem, em algum momento das suas vidas, não riu com uma cacetada do Faustão, dançou ao som do baixo tocado por Rinaldo Oliveira Amaral ou se emocionou com algum personagem interpretado por Kayqye e Meyniel ?

A meu ver, entretanto, as notícias vão muito além do fato.

Alguns meios de comunicação se esbaldam na tragédia, dão espaço a porta-vozes oportunistas, expõem famílias e testemunhas com detalhes que seriam desnecessários.

Por que existem a assessoria de imprensa? Informar e esclarecer. 

Para que são divulgados os boletins-médicos? Para informar e explicar. 

Para que são registrados os Boletins de Ocorrência? Para informar e investigar.

Fausto Silva parece não ter direito à privacidade; a vida amorosa de Mingau parece justificar a invasão alheia e até mesmo àqueles que estão envolvidos indiretamente no acidente de Kayque ou agressão de Meyniel ganharam o noticiários espetaculoso.

Para mim, é crueldade, é tortura, expor o amigo do ator. Quem não ficaria “atordoado”? Quem se preocuparia com o carro? Será que nós teríamos o sangue frio necessário para ficar do lado do amigo ferido? 

O motorista envolvido no acidente fez o que tinha de fazer, como manda a lei: parou, ficou do lado da vítima e chamou o resgate. O resto é fermento para o bolo – fecal- midiático crescer.

No caso de Meyniel, a super-exposição das imagens, que ajudaram a esclarecer o caso e mover a opinião pública, depois de passado do impacto inicial também é uma espécie de tortura.

O agressor foi preso, esperemos que a Justiça pegue pesado com ele.

Mas, quanto ao porteiro…

Aprendi, com uma colega, jornalista popular, negra, periférica, militante, combatente, que, dependendo do local ou ambiente que uma pessoa nasceu, foi criada ou vive, é comum a violência ser normatizada. 

Não por desamor, mas também por medo. Afinal, a corda costuma pesar sempre do lado mais fraco.

Imagine caminhar e se deparar com cadáveres descartados na vizinhança? Conhecidos que têm de ser deixados lá, para evitar complicações? A rotina de ruas de muitas comunidades. No Rio de Janeiro, em São Paulo, em todo o Brasil, infelizmente.

Pensando no trabalhador, em seu local de serviço, onde tem de cumprir horários e regras e, mais cedo ou mais tarde, conviver com o condômino agressor? Fico pensando: será que o porteiro teve tempo, sangue frio ou mesmo sensibilidade para ser solidário com a vítima? Imagino os seus medos, receios, temores. Prefiro pensar nele como um ser humano…

É claro que todos esperamos que todos sejamos empáticos, mas na vida real, às vezes só o escudo emocional nos protege. 

Ao ler tantas notícias, não importando a minha relação com os três artistas, se sou, fui fã um dia ou os desconheço, penso que falta ética nessas coberturas jornalísticas. Quanto aos programas de fofoca, falta respeito.

Não apenas com os três pacientes, mas com todos, todas e todes os que convivem e estão sofrendo na incerteza da recuperação.

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