A encrenca na direita

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Por Carlos Eduardo Alves, especial para o Bem Blogado – 

As últimas pesquisas eleitorais para a eleição presidencial de 2018, feitas por dois institutos insuspeitos de petismo, revelaram, por um lado, a óbvia liderança de Luiz Inácio Lula da Silva. Na outra face da moeda, os resultados confirmaram uma tendência que já se insinuava forte nos levantamentos do final do ano passado: a direita tradicional, a que engloba PSDB e PMDB principalmente, está órfã de possíveis candidaturas com alguma viabilidade.




É certo que cabe a ressalva que falta ainda a um ano e meio para a disputa, mas parece estar se conformando mesmo a repetição um quadro de divórcio entre urna e tucanos. Mais uma vez, a incompatibilidade. Em todas as hipóteses testadas, Aécio, Alckmin e Serra naufragam miseravelmente.

Mesmo com toda condescendência e/ou parceria com o Judiciário e a mídia, o trio tucano perde, na luta para secundar Lula, para Marina e…Bolsonaro.

Eis aí o drama para a direita tradicional e para o país. Bolsonaro chega a ter 20% em alguns extratos mais altos de renda e, preocupante, ocupa um espaço antes inimaginável entre jovens. Não resiste a uma campanha? É o mais provável. Mais convém não desprezar o tsunami de imbecilização em que surfam muitos brasileiros.

Não é absurdo supor que a velha direita de PSDB e PMDB comece, mesmo dissimuladamente, a disparar, via imprensa, torpedos sobre o deputado fascista. Bolsonaro representa, no quadro de hoje, uma ameaça real de alijar de um segundo turno as forças que deram o golpe contra a presidente eleita na urna.

O discurso do ódio que embala as classes médias e altas de São Paulo, por exemplo, é a roupa perfeita, a que mais serve aos delírios medievais de Bolsonaro. O ódio primitivo à política e aos políticos embala o primitivo. E existe, é inegável, uma onda de atraso mundial. Trump era uma “coisa” impensável há não muito tempo, por exemplo. A França democrática assusta-se com Le Pen…

Na velha direita, vai ficando claro que Aécio, mesmo com a dezena de citações na Lava Jato, consolida seu poder interno no PSDB. Será difícil encarar uma campanha com o discurso contra a corrupção, mas a cara de pau é conhecida. Alckmin muito provavelmente tentará ser candidato pelo PSB, hoje uma legenda de aluguel para os conservadores. Também não terá tarefa fácil.

O mundo seria ideal, para a parte mais expressiva da esquerda brasileira, se houvesse uma normalidade democrática-jurídica que assegurasse o direito de Lula ser candidato. Não é o que ocorre, também sabemos. O ressurgimento do ex-presidente na liderança das pesquisas deve iniciar dois movimentos. O primeiro, aliás, já está em andamento: a reativação em velocidade maior ainda de denúncias requentadas e vazias. No último final de semana, a notória “Isto É” apelou até a um louco de almanaque para cumprir a missão.

O outro movimento cabe, em partes quase iguais, aos partidários de Lula e à rapaziada de Curitiba. Existe a necessidade de uma ampla mobilização que evite o que estava traçado nos planos de Moro e MP: a prisão ou, no mínimo, a inelegibilidade do petista. Se não houver uma sinalização clara que não se aceitará a solução final, a do tapetão, Lula será alcançado por Moro, mesmo sem prova alguma.

Os próximos meses, talvez dias, serão decisivos. A luta contra a reforma da Previdência é a chance de mobilizar um contingente expressivo de gente que não se engana com o discurso que anuncia um voo de galinha na Economia. É o embate político que, muito mais do que a PEC que ceifou direitos durante 20 anos, delimitará campos para o cidadão comum. É algo concreto e imediato na vida das famílias.

A velha direita tem dois problemas para resolver. Barrar Bolsonaro talvez seja o mais fácil. Talvez. O outro, impedir Lula de concorrer, depende mais de uma mobilização da esquerda para impedir o prosseguimento do golpe antidemocrático. Dilma foi o alvo temporário. A questão de fundo para os eternos sem-voto sempre teve quatroletras: Lula.

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