Por Ademir Assunção jornalista, poeta, Facebook –
Raul Seixas teria delatado o parceiro Paulo Coelho ao DOI-CODI? A matéria da Folha de São Paulo de ontem correu como um rastilho de pólvora. Ao longo do dia a polêmica se alastrou pelas redes sociais. Vi muitas pessoas, algumas inteligentes, já malhando Raul, sem sequer terem lido uma vírgula da biografia “Não Diga que a Canção Está Perdida”, do jornalista (e meu amigo de longa data) Jotabê Medeiros. Até porque o livro ainda não saiu. Impressionante. Depois de todo o golpe que empurrou o Brasil pro buraco, longamente urdido com a ajuda da grande mídia, pessoas, repito, inteligentes, se deixam levar pelo primeiro impulso. Não percebem o quanto se expõem e o quanto se diminuem. Guardadas as devidas proporções, acabam se manifestando como a polícia de Wilson Witzel e João Doria: atiram antes para perguntar depois.
Hoje, Jotabê Medeiros escreveu um texto esclarecendo que em nenhum momento afirma que Raul delatou Coelho. Na biografia, revela um documento encontrado num arquivo público que poderia levantar a suspeita. Como jornalista e biógrafo, óbvio, não pode ignorar a informação. Mas entre a suspeita e o fato há uma distância enorme. Os jornalistas novatos que estão na imprensa atual, talvez treinados por chefes bem adestrados, não sabem conjugar o verbo no condicional. Entre “delatou” e “teria delatado” há uma distância enorme, repito. Comportam-se mais como publicitários, querendo vender um produto, do que como jornalistas, que devem apurar os fatos. Os polemistas de plantão, ansiosos em se manifestar sobre tudo e sobre todos, atiram com espantosa rapidez para todos os lados.
E assim se deflagram grandes linchamentos.