Imaginem o que é cobrir os Jogos Abertos do Interior com a seriedade que eles merecem. E isso aconteceu logo nos primeiros passos da TV, nos Jogos de São José do Rio Preto em 1995. Costumo brincar com os amigos que foi a primeira cobertura “internacional” da nossa trupe: tinha as disputas mais importantes do dia, tinha reportagem, tinha um jornal diário. E justo no último dia, uma tempestade impediu a geração do material do jornal para São Paulo
Por Roberto Salim, compartilhado do Site Ultrajano
Passou feito um raio que, em uma das primeiras transmissões, quase caiu na cabeça do repórter Fábio Reis em Uberlândia.
Era um jogo da Seleção Brasileira de Futebol Feminino.
E, como eu estava dizendo, tudo foi como um raio mesmo.
Passou velozmente.
Foi como um sonho.
Uma televisão só mostrando esportes e o Brasil de verdade, feita por um bando de jornalistas loucos por reportagem e competições. Vocês sabem o que é ter em uma redação um Michel Laurence ou um José Roberto Malia orientando, corrigindo, criando? Sabem o que é ter a juventude dos esportes radicais pulsando com bicicletas na terra e voos pelo céu?
Imaginem o que é cobrir os Jogos Abertos do Interior com a seriedade que eles merecem. E isso aconteceu logo nos primeiros passos da TV, nos Jogos de São José do Rio Preto em 1995. Costumo brincar com os amigos que foi a primeira cobertura “internacional” da nossa trupe: tinha as disputas mais importantes do dia, tinha reportagem, tinha um jornal diário. E justo no último dia, uma tempestade impediu a geração do material do jornal para São Paulo. Ficamos sob a luz de velas a madrugada toda esperando para gerar de nossa redação improvisada em Mirassol: o engenheiro Vitão, o Laércio, o Liláceo (Jumelo), a Kitty e eu.
A geração nunca aconteceu.
Mas no ano seguinte já estávamos viajando para a cobertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta. Lembro-me do Pedrinho Bassan preocupado: “Nunca cobri uma Olimpíada!”.
E o tranquilizei: “Você cobriu os Jogos Abertos?”
E ele respondeu: “Claro, estava com você em São José do Rio Preto…”
“Então, Bassan”, fui dizendo, “quem cobre os Jogos Abertos cobre qualquer Olimpíada, seja lá onde for”.
E em Atlanta fizemos nossa primeira cobertura internacional de verdade: André Kfouri, Helvídio Mattos e Bassan. Se eu contar como foi, com uma credencial só, vocês não vão acreditar. E cobrimos e muito bem. Mas essa é uma outra história.
E em 1998 veio a Copa da França: com o Dermeval e o Ari Boi dando show pelas ruas de Paris.
Tinha Tostão, Chico Buarque, Luis Fernando Verissimo e Reali Júnior na Mesa Redonda.
E tinha Paulo Soares e Antero Greco.
E o Trajano no comando.
E os carros alugados moendo o motor, porque às vezes abastecíamos os veículos com o combustível errado.
E a superprodutora Wilma Maciel correndo atrás de tudo.
Solucionando todos os problemas franceses.
E a gente levando o Carlos Alberto Parreira para o seu hotel depois de uma mesa redonda. Ele era o técnico da equipe da Arábia Saudita. Deixamos o Parreira na porta do luxuoso hotel, nos perdemos na volta e quase fomos parar em Lyon.
Era assim: uma grande aventura.
Com caminhadas a pé até o Centro de Imprensa com o irmão Cledi Oliveira. Comendo sanduíche na janta com o Kaká Martins no Posto de Gasolina em frente ao hotel.
Na volta ao Brasil, passamos a fazer para valer o Histórias do Esporte, com o parceiro Ronaldo Kotscho e cinegrafistas que eram como filhos, como Sidão da Matta e Nílson Pas.
E tinha o Décio Viotto e o Beto Duarte na edição dos programas.
Luiz Alberto Volpe narrando os textos com sua voz maravilhosa, entonação perfeita.
E veio Ives Tavares para comandar a redação, e foi inesquecível trabalhar a seu lado no Pan-Americano de Winnipeg, em 1999.
Era uma turma da fuzarca, como dizia meu pai.
A ESPN Brasil deslanchava.
Continuaram as narrações empolgantes do Mílton Leite, do Cledi, do Amigão.
E vieram mais Jogos Abertos, Olimpíadas, Copas, Pan-Americanos, reportagens e muito mais reportagens. Vieram denúncias que mudaram rumos no esporte, vieram até prêmios, vieram também decepções.
“Así és la vida”, dizia um dos nossos personagens favoritos: o lutador de boxe Waldemiro Pinto, o Galo Preto.
Enfim, era um canal de TV que tinha Brasil no nome e mostrava verdadeiramente o país: sem interesses ou maquiagem.
Nosso povo e nossos esportistas na telinha.
Foi criado pelo José Trajano, viveu muitos anos e agora virou memória, porque, como falava Waldemiro, a vida é assim…