Carlos Eduardo Alves pelo Facebook –
Óbvio que as manifestações de hoje abriram a contagem para o nocaute do governo Dilma. O golpe (sim, é golpe) avançou portentosas casas. O número dos que foram às ruas cria um inegável fato político para legitimar o acordo das elites em torno do que vem por aí.
Não importa, para efeito prático, os métodos baixos usados nos últimos dias para turbinar a manifestação. Lula depondo, ação patética de promotores ignorantes, convocação em tempo integral pela TV… sim, tudo somou. Não se chegaria a 500 mil pessoas na Paulista sem essa ajudona. Mas a direita foi. O ódio a PT, Lula e Dilma foi o combustível principal, embora dissimulado pelo discurso cínico de combate à corrupção. Mas governo que foi eleito prometendo crescimento e apresenta recessão também tem culpa no cartório.
Não é o caso, no post, de fazer o inventário dos erros de Dilma. Nasceram no dia da vitória e foram muitos. Mas a correção exige que se lembre que o golpe que se avizinha começou a ser tramado na mesma data, quando Aécio e sua turma questionaram o resultado das urnas. Sem essa preliminar o debate intelectual não é honesto.
O que resta para a esquerda e o governo? Resistir politicamente com a arma da legalidade. Manifestação, por mais numerosa quie seja, não substitui urna e Dilma foi eleita para cumprir mandato até 2018. Aliás, a multidão que foi hoje protestar pode, case se confirme que o golpe prosperou, guardar muita semelhança com a “Marcha com Deus Pela Família” de 64. Sabemos no que deu o urro do asfalto.
O que está desenhado no plano imediato é um acerto das elites que terá Michel Temer como repersentante formal no poder. Ele mesmo, o vice missivista sem voto e carisma. O presidente do PMDB, o partido que não consegue ser incluiído, por incompatibilidade, na mesma frase em que tenha lugar a palavra correção.
Temer tem sua cota a entregar a quem banca o tapetão: um plano econômico que vai chacinar direitos sociais de trabalhadores e pobres. Não se limitará à reforma da Previdência.
Vai cortar fundo programas sociais (o Bolsa Família terá que ser de alguma maneira preservado), direitos trabalhistas e muitos instrumentos de inclusão adotados nos últimos anos.
O massacre social, que será defendido nos grandes veículos de comunicação como necessário para que se “consertem os erros do PT e para que o Brasil volte a crescer”, será cruel. O plano está montado. Mas passado os talvez 6 meses em que a caça a PT e petistas garantam manchetes, alguém acredita mesmo que Temer terá legitimidade para enfrentar os protestos dos atingidos pelo ajuste à direita? Não será a grita dos limpinhos na Paulista. Será o berro da periferia, daquele pessoal que quer almoço e jantar.
Muitos dos que foram à Paulista, mesmo com diploma universitário, acreditam mesmo que a corrupção foi inventada pelo PT e, mais trágico, que, se um dia ela for estancada, o Brasil se transforma em Suécia imediatamente. Os burros escolarizados terão um surpresa.
Uma parte da imensa encrenca que vem por aí (caindo Dlma, em 6 meses conheceremos sim a Venezuela) pôde ser sentida hoje, quando a direita hostilizou os seus Aécio, Alckmin e a novata Marta. O pessoal quer sangue, Não gosta de “veadinhos”. Quer combater a corrupa com o paulinodaforça. Não chegaremos a ser o país do Bolsonaro, mas talvez chegaremos perto. Nunca foi tão fácil para um aventureiro de direita empolgar o nada distinto público com o discurso da meritocracia e do combate à corrupção. Na Itália deu em Berlusconni. Aqui, quem está pedindo a bola é um modelito de justiceiro de camisa preta.
Enfim, cabe à esquerda resistir ao avanço inegável do golpe. Se não conseguir barrar a tramoia que se monta no Congresso , o que é mais provável, é hora de partidos ou, muito mais ainda, movimentos sociais que se expandiram no país encararem o combate contra o chicote que Temer vai empunhar oficialmente, mas que será fabricado e fornecido pelas mesmas mãos que tem séculos vivem da corrupção e da exploração dos trabalhadores, embora hipocritamente façam discursos irados contra a roubalheira