A falta que eles fazem

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

O fato é que a velha guarda que se foi faz muito falta a Lula. Quem conhece o presidente faz anos atesta que hoje o círculo próximo é mais restrito. Mas essa é a realidade, não tem jeito.




O mundo e sua geopolítica mudaram muito desde as passagens anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Não existia, naqueles tempos, por exemplo, a atual onda conservadora, o universo das relações trabalhistas era outro, as redes sociais praticamente engatinhavam etc. Lula continua, depois de passar pela cafajestagem da Lava Jato e seus canalhas, de perdas familiares e ser hoje um quase octogenário de casamento novo. E a vida tirou também de Lula algumas das figuras políticas que muito o ajudaram na construção da maior liderança popular da História do Brasil. Gigantes da luta democrática se foram. Luiz Gushiken, Marco Aurélio Garcia, Marcelo Deda, José Eduardo Dutra, Márcio Thomaz Bastos e Sigmaringa Seixas, entre outros, fazem muita falta.

Quem acompanhou a construção que pavimentou o caminho para o primeiro triunfo presidencial de Lula sabe da importância desses amigos na vitória de 2002, sem esquecer de José Dirceu, que muitas vezes fez o papel interno antipático mas necessário de “peitar” o fogo amigo no PT.

Hoje, a verdade é essa, não existem líderes petistas que tenham, no ouvido de Lula, tanta receptividade. Gushiken, por exemplo, era sempre o que pensava muito antes de dar uma opinião. E Lula respeitava o “japonês” bancário. Sigmaringa, que tinha sempre fobia a holofotes, era confidente e conselheiro do líder petista sempre que as coisas apertavam. Poucos sabem, mas Lula só concordou em embarcar no avião que o levaria ao cárcere criminoso de Curitiba se “Sig”, como chamava o amigo carinhosamente”, o acompanhasse.

Hoje, talvez só reste o senador Jaques Wagner daquela turma de amigos conselheiros, já que Olivio Dutra se recolheu em Porto Alegre. E não há figura política que tenha intimidade para peso igual aos amigos antigos.

Alguns como Gleisi Hofmann recebem toda confiança do líder e já provaram, em horas dificílimas, fidelidade ao atual presidente da República. Mas ela e Edinho Silva são talvez exceções entre os que têm a possibilidade de acesso político livre a Lula.

Essa realidade deve ser pesada na hora de analisar o terceiro mandato de Lula. É um governo com índices econômicos excelentes, restituição de todas as franquias democráticas surrupiadas pelo governo fascista, respeito internacional, enfim, em condições normais em passado recentíssimo pulverizaria a oposição da direitona. Isso não está acontecendo, embora Lula permaneça como favorito se se dispuser a concorrer à eleição.

Há um mundo novo complexo, e ninguém tem a fórmula certeira de interpretá-lo. Parece, no caso brasileiro, que os beneficiados por políticas sociais querem também algo a mais. Fruto da vitoriosa, reconheçamos, vitória momentânea da ode ao empreendedorismo e da recusa em enxergar papel do Estado na Economia? Talvez, só talvez.

O fato é que a velha guarda que se foi faz muito falta a Lula. Quem conhece o presidente faz anos atesta que hoje o círculo próximo é mais restrito. Mas essa é a realidade, não tem jeito.

O pior é que a anestesia dos setores populares persiste. Não há luta política nas ruas, por exemplo, por uma política tributária mais justa, que faça os milionários pagarem imposto como seus colegas endinheirados  fazem nas nações capitalistas que dizem tanto admirar.

Essa letargia dos setores progressistas parece apostar cegamente que o carisma de Lula será suficiente para barrar novamente a extrema-direita em 2026. Até deve ser, mas a História da Humanidade recomenda que nunca se deve subestimar os fascistas e seu poder de destruição dos valores democráticos e sociais.

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