Por Regina Dalcastagné, professora de Literatura na UnB – Universidade de Brasília
“Sobre o caso do “novo ensino médio”, lembro que eu também atravessei uma dessas reformulações absurdas na minha adolescência. O único colégio da minha cidadezinha passou a oferecer, de repente, um curso “profissionalizante” como única opção. Nem lembro direito do nome, algo como mercadologia. A partir do segundo ano, desapareciam todas as disciplinas que seriam cobradas no vestibular e, sem elas, eu ficaria enclausurada por lá – o que era verdadeiramente apavorante.
Eu já tinha escolhido o curso de Jornalismo, que só existia na UFSC, em Florianópolis, e era bastante disputado. Minha professora de História, ao final do primeiro ano, me puxou pela mão e me levou para um colégio particular na cidade vizinha.
Agendou uma reunião com o diretor, me elogiou muito e conseguiu uma bolsa para mim. Lá, continuei estudando Português, Matemática, Biologia, Química, Física, História etc. Passei na primeira tentativa no vestibular e segui a minha vida, conforme minhas escolhas.
Como não queria abandonar meus amigos, era uma turma pequena e unida, continuei também o curso na minha cidade. Tirava boas notas, sem muito esforço. Esse curso não me serviu para nada. Não sei se teve alguma utilidade para meus amigos, além do diploma.
Que os filhos dos pobres possam fazer, verdadeiramente, escolhas. Não é isso que o “novo ensino médio” oferece.”
Foto: Washington Luiz de Araújo, feita na Cinelândia/RJ, em ato de estudantes, 15 de março de 2023
NE: O título do texto é do Bem Blogado