Por Ademir Assunção, jornalista e poeta, no Facebook
Lamento a morte de Otávio Frias Filho. Tenho pesar pelos filhos, pela companheira, pelos irmãos, pelas pessoas próximas que gostavam dele. Mas não tenho motivos para transformá-lo num herói pessoal. Para mim, passa longe dos (esses, sim) meus verdadeiros heróis: Paulo Leminski, Itamar Assumpção ou Torquato Neto – que deram tanto ao Brasil e receberam muito pouco em troca.
A despeito da fase áurea da Ilustrada no início da década de 80 (que assimilou muito da liberdade que rolava, a duras penas, na imprensa alternativa dos anos anteriores), a linha editoral da Folha de São Paulo, sob seu comando, nunca me enganou. E fez pelo menos dois grandes estragos: 1) com o passar dos anos ajudou a transformar o jornalismo brasileiro numa mercadoria banal (vide o que é o UOL hoje – depois das notícias principais, continue descendo a barra de rolagem) e 2), o pior deles: ajudou, muito, a transformar o jornalismo numa central de manipulação, desestabilização e golpismo.
Tive uma breve passagem pelo jornal no ano de 1991. Conheci suas entranhas. E posso dizer: foi um dos piores lugares em que trabalhei. Quando saí, distribuí uma carta a algumas personalidades. Entre outras coisas (que não me lembro mais) dizia que uma só mãe de santo não daria conta de desanuviar o ambiente carregadíssimo da redação. Seria necessário uma comissão numerosa de mães-de-santo. Entrei na lista negra do jornal (como muitos artistas e intelectuais). Paguei caro por meu gesto de rebeldia. Só eu sei.
Tenho consciência de que um texto como este, neste momento, pode soar extremamente deselegante. Mas, sinto muito, a morte não redime a deselegância – e até o rancor – do outrora vivo.
De toda forma, que tenha seu descanso e faça sua passagem da melhor forma possível. Nós, que ficamos por mais um tempo, tentaremos corrigir os estragos.