Projeto socioambiental germina, cresce e dá frutos em favela na Zona Norte do Rio
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
Por vezes vista como o lugar da falta – e não o da possibilidade – e pela violência das armas e de tantas outras vertentes existentes, a favela também é ponto de partida rumo a projetos que ampliam a sustentabilidade territorial, voltando suas atenções para a proteção do meio ambiente. Perto da efeméride da próxima segunda (5/6), em que se comemora o dia voltado a esta discussão, o Morro da Formiga, na Zona Norte, receberá uma ação que vem não só movimentando o lugar, mas também colorindo a vida local. Promovendo a educação ambiental através de diálogo, ‘’olhar atento e mão na terra’’, o projeto Formiga Verde foi criado e desenvolvido na região, a partir de uma ideia do Instituto Permacultura Lab (IPL) em parceria com o Coletivo FormigAção e com o Espaço Formiga Verde.
Contemplado pelo edital de Responsabilidade SocioAmbiental da Eletrobrás, o projeto, que precisou germinar durante três anos seguidos antes, ganhou força para brotar e se firmar em três eixos principais de atuação: Infâncias, voltado para crianças de uma escola pública local; Comunidade, abarcando os moradores da região; e Meio Ambiente.
Trabalhando mais incisivamente com o último eixo, o projeto encerra neste mês o ciclo de Reflorestamento, com saldo de duas mil mudas de árvores nativas e frutíferas da Mata Atlântica plantadas. A diversidade salta aos olhos: por lá, poderão ser vistos Ipês, Grumixamas, Pau-Formigas, Araçás, Jatobás, Aldragos, Araribás, Embaúbas e Aroeiras, além de canteiros comestíveis com pés de frutas como Limão Bravo, Cajá Mirim, Jenipapo, Jabuticaba, Pitanga e Goiaba. É fruta na mão e raiz no chão.
A comunidade saiu impactada – e não haveria como não ser. Desde sua implementação, 11 turmas foram divididas em dois turnos, com uma média de 250 crianças e ainda idosos e mães com filhos.Mutirões de limpeza em terrenos abandonados deram espaço à viveiros de mudas, canteiros comestíveis e a uma construção de banheiro seco, algo até então inimaginável para aquela realidade.
Tendo como missão promover transformações socioambientais positivas e contribuir com o fortalecimento de territórios, o Instituto Permacultura Lab atua desenvolvendo projetos promovendo ações relacionadas à educação ambiental, agricultura urbana e popularização da agroecologia e permacultura. “Em meio a um contexto pandêmico, construímos uma parceria potente entre comunidade, escola, ONGs e universidades. Assim nasceu o Formiga Verde, um projeto que pega emprestado o nome do espaço ambiental comunitário já existente na favela Morro da Formiga desde 2017”, resume Clara Trevia, coordenadora do projeto.
O objetivo do IPL é somar forças e manter viva a discussão e a sensibilização para temáticas socioambientais na comunidade. “A E.M. Jornalista Brito Broca e sua equipe de educadoras abriram as portas e corações para o Formiga Verde e, assim, criamos caminhos possíveis para sonhar uma educação ambiental de base comunitária. Em 2020, o projeto foi inteiramente remoto, realizamos uma Trocas de Saberes online para os profissionais da escola na qual criamos juntos caminhos e oportunidades de se trabalhar a educação ambiental para infâncias. Encontros virtuais onde muitas ideias incríveis foram semeadas e que agora em 2022 podem florescer”, relembra Clara.
“O IPL atua no espaço desde 2018, quando participou do mapeamento da área reflorestada organizado pela UNIRIO e integrou, assim, a rede de parceiros da Formiga. Ao longo de 2020 e 2021, em uma parceria de muitas mãos dadas, compartilhamos saberes sobre a educação ambiental nas infâncias e como manifestá-la de maneira transversal com a equipe e crianças da Escola Municipal Jornalista Brito Broca”, valida Aurea França, coordenadora pedagógica do eixo.
Com a reabertura das escolas em 2021, o projeto teve a oportunidade de realizar encontros pontuais presenciais com cinco turmas da Educação Infantil e Ensino Fundamental, onde crianças participaram de atividades de compostagem e da implementação de uma horta vertical na Escola. Em 2022, com o recurso do edital da Eletrobrás, o projeto passa a incluir aulas semanais de educação socioambiental e o curso presencial de formação de professores, além de oficinas formativas e realização de um plantio de reflorestamento.
Quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro. Eles se mexeram, remexeram e trouxeram mais vida ao morro. Que as colônias multipliquem-se pelo país, e que das periferias emerjam amanhãs possíveis frutificados.
*Com apoio de Gisele Machado para as informações