Eu sou jornalista e, como jornalista, também queria estar nas rodas nas quais os repórteres perguntam como se sentem o Walter Salles, a Fernanda Torres e Salton Mello nesta cansativa maratona pós-cerimônia Oscar.
Por Léo Bueno, compartilhado de Construir Resistência

Sou jornalista e, como jornalista, dedico minha solidariedade a atores e diretor que estão precisando usar óculos escuros para aguentar as luzes depois de semanas dando entrevistas nas quais as perguntas são sempre as mesmas – mudam os entrevistadores, mudam as pessoas que veem as entrevistas, o padrão do público-alvo fica o mesmo, por isso as perguntas, e as respostas esperadas, também. Imagina: deve ser um saco!
Eu sou jornalista, e lógico que reproduzo as notícias sobre o prêmio, como foi anunciado o prêmio, quem votou no prêmio.
E principalmente quais as consequências do prêmio. É daí que vem a maior importância de se fazer um filme bom que chame a atenção no exterior, que ganhe láureas, que puxe o assunto sobre uma ditadura bancada pelo imperialismo, que mostre nossos artistas aplicados nos temas mais importantes para a humanidade.
Importantes como um estado no qual um pai de família pode ser sequestrado, torturado e desaparecer sem que seus assassinos sejam punidos e, pior, sem que sua família seja jamais comunicada sobre seu destino.
Eu sou um jornalista e, como jornalista, neste momento gostaria de perguntar a pergunta mais importante, a fundamental, talvez a única que importa: onde está o corpo de Rubens Paiva, e o que aconteceu com ele antes de ter ido parar lá.
Suponho que esta é a grande dúvida do livro e do filme e devia ser a do Oscar e a dos que torcemos por ele.
Senão, fazer arte e ganhar prêmios por quê?