A greve de Hollywood e as big techs

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Talvez você esteja planejando assistir a uma série e pedir comida em um aplicativo de delivery em algum momento deste fim de semana. A gente até esquece, mas essas ações corriqueiras são intermediadas por grandes empresas de tecnologia, cada vez mais presentes na nossa vida e com impactos significativos no consumo de informação, nos modelos de trabalho, na democracia.

Por Marina Dias, compartilhado de APública

Na última sexta-feira, dias antes da estreia dos dois filmes mais aguardados do ano – Barbie e Oppenheimer, de Christopher Nolan – o Sindicato dos Atores e Federação Americana de Artistas de Televisão (SAG – AFTRA) juntou-se à greve dos roteiristas, que há quase três meses estão parados para reivindicar melhores condições de trabalho. O elenco de Oppenheimer, filme que conta a história do físico considerado “o pai da bomba atômica”, deixou de participar de uma premiére em Londres em apoio à greve dos atores. A atriz Margot Robbie, que interpreta a boneca Barbie, declarou que apoia totalmente os sindicatos. 

Tanto atores quanto roteiristas reivindicam que os repasses feitos por serviços de streaming, como a Netflix, aos profissionais sejam revistos, considerando a popularidade das produções. Atualmente, eles recebem um valor fixo uma vez, quando um título é incluído no catálogo de uma plataforma, que explora aquele trabalho para ter mais assinaturas, mais audiência, mais lucros. 

Embora Margot Robbie seja atualmente a atriz mais bem paga de Hollywood, seu apoio a uma greve que, entre outras coisas, reivindica que as big techs sejam mais justas e transparentes, é um lembrete importante de que precisamos debater os impactos e a regulação dessas empresas. 

Enquanto as negociações em Hollywood estão longe de acabar, aqui no Brasil, o iFood assinou um acordo que tem como um dos objetivos assegurar os direitos trabalhistas e associativos dos entregadores. O Termo de Ajustamento de Conduta, firmado pelo iFood com o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Federal, encerra uma investigação feita pelos dois órgãos e motivada por uma reportagem da Pública, que denunciou a contratação de agências de publicidade para desmobilizar o movimento de entregadores. 

Agora, o iFood não poderá aumentar as tarifas do app durante greves de entregadores e terá que desembolsar R$6 milhões para financiar pesquisas e projetos que analisem as relações de trabalho com os entregadores, o marketing digital e a responsabilidade social das plataformas de trabalho online. O termo estabelecido pelo MPF e pelo MPT é um bom exemplo de como responsabilizar empresas de tecnologia, que têm o poder de moldar indústrias inteiras.

O jornalismo também vem sendo transformado pelas big techs. O Digital News Report 2023, do Reuters Institute, que pesquisa o consumo de notícias em diversos países, aponta que, entre as pessoas que consomem notícias online, 30% as buscam diretamente nas redes sociais, enquanto 22% acessam diretamente sites de notícias. Ao mesmo tempo, há casos como o do Facebook, que em 2018 decidiu privilegiar conteúdo produzido por amigos e parentes dos usuários em vez de de notícias. Isso sem falar no uso constante das redes sociais para espalhar informações falsas. 

Os casos como o da greve em Hollywood, da luta dos entregadores por direitos trabalhistas e da distribuição de notícias são exemplos de que a necessidade de discussão sobre a atuação das big techs e sua regulamentação vai longe e é uma questão global, que afeta os mais diversos setores e indústrias. 




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