Por Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo –
Você mede hoje o avanço social de uma grande cidade pelas bicicletas.
Quanto mais ciclistas, mais avançada.
Copenhague e Amsterdã são modelos mundiais.
Londres, Nova York e Paris se empenham tenazmente para aumentar o número de bicicletas nas ruas e reduzir o de carros.
São Paulo, miseravelmente, ficou para trás, por conta de administrações ineptas como a de Serra.
E quando aparece enfim um prefeito disposto a corrigir um atraso humilhante ele é recebido não com aplausos – mas com uma camada selvagem de resistência.
Um dia vamos tentar entender como São Paulo se tornou uma cidade tão infestada de pessoas que abominam inovações e mudanças.
O túmulo do samba se converteu no túmulo das novidades.
Um episódio simbólico ocorreu neste domingo, quando Haddad, de bicicleta, inaugurava uma ciclovia. Um casal de patetas imobilizou sua bicicleta e proferiu insultos. Sinal dos tempos, as mulheres dos desvairados se tornaram cúmplices. Antes, sensatas, elas eram um contraponto a maridos encrenqueiros. Agora, contribuem para o incêndio.
Haddad não inventou a roda. Estava na cara, quando ele assumiu a prefeitura, que o maior drama da cidade era a mobilidade.
Se antecessores como Serra e Kassab não viram isso é porque a incompetência deles é desumana.
Haddad viu, portanto, o óbvio.
E agiu.
Sob o estímulo de uma mídia cujo cérebro estacionou no século passado, os donos de carros começaram a criar problemas sobre problemas.
É como se a cidade pertencesse a eles.
Em sua cegueira egoísta, não se deram conta de que a diminuição dos carros nas ruas seria um bem para todos.
Haddad teve a explicar a jornalistas ignorantes como o professor Villa que primeiro você tem que abrir ciclovias para depois aparecerem e se multiplicarem os ciclistas.
Nas eleições municipais do ano que vem, é possível que Haddad seja punido por ter tentado tirar São Paulo do primitivismo em termos de bicicletas.
Mas a história da cidade reconhecerá nele um espírito sintonizado com o sue tempo.
Pois não é possível que, indefinidamente, os paulistanos serão cobertos pelo grau de obtusidade e reacionarismo que é hoje a marca de uma metrópole que foi sempre tão dinâmica e aberta a novas ideias.