A história de Letícia, bissexual, 13 anos

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Por Valentim Frateschi* – 

Quando pensei em falar sobre LGBTTT e homofobia, decidi fazer uma “série” de entrevistas com algumas amigas e amigos. Minha intenção é ouvir a voz dessas pessoas, ouvir as experiências, os medos, inseguranças e superações dos (as) adolescentes considerados anormais.




Desde 2013, a homofobia é crime no Brasil com pena de dois a cinco anos, mas isso parece ser ignorado. Há uma média de um(a) LGBTTTT morto(a) no Brasil a cada 28 horas. Suicídios e homicídios por conta da homofobia.

Vamos para a primeira entrevista.

Letícia (nome fictício, pois a pessoa entrevistada prefere não ser identificada):

Letícia tem 13 anos e é bissexual, ela já se admitiu para as amigas e amigos, mas a única pessoa da família que sabe é a mãe. Isso se deve a família ser preconceituosa em relação a sua sexualidade, uns familiares mais, outros menos.

Ela diz já ter ouvido em jantares de família que ser gay ou bi não é normal. “Eu tava no aeroporto e vi dois homens se beijando, mas e as crianças?”  Até que a conversa chegou nos bissexuais: “Ser bissexual não dá, é querer demais.”. “Isso é sem vergonhice”, diz a família. “Então comecei a chorar muito”. Diz a menina.

“Para a sociedade não existe bi, só existe gay ou lésbica.” Diz Letícia.

Ela diz que não sofre preconceito na família, porque esta ainda não sabe. Tem apenas um ou dois casos de preconceito de colegas. Em um deles, sua amiga começou a falar que só estava querendo chamar atenção. Com esta ex-amiga, a menina cortou a amizade e diz que acha que a relação com a família ainda vai mudar quando eles ficarem sabendo.

Ela diz que outra amiga parou de se trocar na frente dela após saber que não é hétero. “Ela é super legal e não demonstrou preconceito, na verdade eu não sei se é por eu ser bi, mas isso aconteceu.” Elas continuam sendo amigas, mas Letícia não deixou de notar isso.

Ela também diz sobre casos em que a família mostrou uma “leve” ignorância ao dizer que homofobia não existe, mas heterofobia sim. “Comecei a rir muito!” – Disse.

Ela diz que descobriu aos 11 anos que gostava dos dois sexos, mas que ficou um tempo escondendo isso de si mesma, pois admite que não se achava normal.

Até que foi pesquisar na internet e descobriu que não era “a diferentona”. Dois anos depois, Letícia disse para a sua amiga que era bissexual. No começo, ela só falou para as amigas mais próximas e quando ia dizer começava a chorar.

Com o tempo, isso foi virando algo “de boa” para ela. Até que se assumiu para a mãe e disse que não teve medo de ser reprimida. E que ainda não falou para o pai, mas acha que ele vai reagir normalmente.

No meu ponto de vista, ela tem medo que a família a exclua e a família tem medo de sua “anormalidade”. Dá pra perceber que ela já sabe que vai ter que ser forte. Foi ótimo ouvir isso dela.

“A primeira menina que eu gostei foi no quinto ano, ela usava uns vestidos e uns chapéus de flores muito lindos. Não sei se gostei dela ou do chapéu…”. Diz Letícia.

Aguardem o próximo capítulo…

valentim*Valentim Frateschi, nosso colunista de 12 anos inicia aqui uma série de entrevistas com adolescentes homossexuais.

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