Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
A cerveja gelada numa mesa de boteco é capaz de cada coisa…. Estávamos, eu e o Américo Vermelho na Adega da Praça, na São Salvador (Rio), quando surgiu a história de que Napoleão, além da mania de coçar a barriga, era chegado num cheirinho pré-banho. Daí, a cerveja na cachola nos inspirou e levou ao verso: Napoleão, em Waterloo / Perdeu a guerra, mas não deu chabu / Mandou na frente o mensageiro / Ô Josefina não perca seu cheiro…
E a coisa parou por aí. Afinal de contas, inspiração não vem assim todo dia e toda hora, mesmo regada com muita cerva.
Dias depois, fomos eu e a companheiríssima Carmola, a Paraty, na casa dos amigos Paulão e Yoyo. Neste local, uma mesa enorme nos incentiva a não ir ao boteco, pois o mesmo já está ali.
Cerveja rolando a rodo, papo vai, papo vem, lembrei ao glorioso Chicão, filho do casal, que, desde criancinha, sempre foi chegado em falar uma sacanagem, sobre o “causo” do Napoleão e o nosso início de marchinha. Entusiasmados, eu e o Chicão construímos de cara o refrão: Deste perfume natural, que vai se aflorando / Não lava que estou chegando.
E o Paulão, um pai sempre orgulhoso das sacanagens verbais do filhão, entrou no papo. Fanzaço do poeta Manuel Bandeira, lembrou que o mesmo havia feito um poema inspirado na embalagem do sabonete Araxá, que trazia um trio de beldades. Na “Balada das Três Mulheres do Sabonete Araxá”, Bandeira exalta: As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me / [bouleversam, me hipnotizam / Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!/ O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Pois bem, de acordo com o fã do Bandeira, o Paulão, um dia um curioso (o que seria dos “causos” não fossem os curiosos?) perguntou ao poeta p porquê de ter destacado: Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde! E Manuel Bandeira respondeu de pronto: “porque, neste horário, elas não tinham, ainda, tomado banho”.
Não deu outra, toda a erudição do Paulão nos inspirou para outro verso da até então magérrima marchinha. E aterrissou na mesa: Nosso poeta, Manuel Bandeira / Já foi direto onde a coisa cheira / Enalteceu as três moças de Araxá / Não lava que eu vou chegar.
Pronto, esta é a história de nossa marchinha “Não lava que estou chegando”.
E lave a boca antes de proferir a piada pronta de que esta nossa criação cheira mal…
Não lava que estou chegando
(marchinha de Américo Vermelho, Chicão Frateschi e Washington Araújo)
Deste perfume natural, que vai se aflorando
Não lava que estou chegando
Napoleão, em Waterloo
Perdeu a guerra, mas não deu chabu
Mandou na frente o mensageiro
Ô Josefina não perca seu cheiro
Nosso poeta, Manuel Bandeira
Já foi direto onde a coisa cheira
Enalteceu as três moças de Araxá
Não lava que eu vou chegar
Deste perfume natural, que vai se aflorando
Não lava que estou chegando (bis)