Por Nirton Venancio, cineasta, roteirista, poeta, professor de literatura e cinema
No começo da madrugada de 28 de junho de 1969, oito policiais, alguns deles à paisana, entraram no bar The Stonewall Inn, em Nova Iorque, e aos gritos anunciaram que estavam tomando o lugar, ocupando o território, com a violência característica da arbitrariedade e preconceito. Predominante gay, o local era constantemente alvo de batidas policiais.
O ataque daquela noite, porém, teve repercussão inesperada e histórica. Motins reverberaram seguidamente entre os frequentadores, como reação às represálias, à discriminação e cerceamento da liberdade.
Os protestos desencadeados culminaram com a marcha ocorrida no dia 1º de julho de 1970. O evento tornou-se precursor das atuais Paradas do Orgulho LGBTQI+
Renato Russo lançou em 1994 o seu primeiro disco solo, intitulado “The Stonewall Celebration Concert”, LP e CD, em comemoração aos 25 anos dos motins.
Com 21 belíssimas canções em inglês, de clássicos de Irvin Berlin e Leonard Berstein ao pop-folk da alemã-britânica Tanita Tikaram, passando por Bob Dylan, Madonna e Billy Joe, o disco é precioso pelo repertório e pontuação ao histórico acontecimento.
A bela capa do álbum, uma referência ao sexto e último disco de John Lennon, “Rock n’ Roll”, de 1975, foi feita em frente ao prédio onde Renato Russo morava, Edifício Colonial, de 1938, na rua Nascimento e Silva, em Ipanema.
O cantor doou parte dos rendimentos dos direitos autorais do disco para a campanha Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, criada por Herbert de Souza, o Betinho, falecido em 1997, um ano depois de Renato.
No arremate de sua homenagem, Renato cita no encarte um provérbio árabe: “A ignorância é vizinha da maldade”.