Por Ademir Assunção, escritor, poeta e jornalista
A 4ª Conferência Nacional de Cultura, que aconteceu em Brasília durante esta semana, aprovou proposta de criação da Agência Nacional da Música e do Instituto Nacional do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas.
Na minha opinião, deveria ser criado o Instituto Nacional da Literatura, seguindo o exemplo da Agência Nacional da Música.
Por que?
Porque é hora de pensar políticas de formação de público mais amplas, que não se prendam apenas ao livro.
A literatura não se manifesta apenas no livro. Vai muito mais além.
Um Instituto Nacional de Literatura, com políticas eficientes e orçamento, pode promover e/ou apoiar programas de circulação de escritores por universidades e escolas, revistas literárias, impressas e virtuais, leituras públicas, Slams (que atraem públicos jovens e periféricos) e recitais de literatura de cordel (que sempre atraíram público popular), festivais independentes, programas áudio-visuais transmitidos pela internet, bolsas de criação, intercâmbio de escritores com outros países e continentes, especialmente América Latina e África, enfim, uma gama muito mais ampla de formação de público, por um lado, e de oportunidades de trabalho para os escritores, dos mais variados gêneros literários e estratos sociais, por outro.
Há programas específicos, focados no livro, como o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) e o PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura). As políticas podem perfeitamente funcionar de maneira integrada.
Mas a literatura pode ir mais longe do que as bibliotecas. Pode ir para as ruas, para as escolas, para os bairros, para os morros, para as redes virtuais. Onde sempre deveria estar. De maneira muito mais variada.
É fundamental que os formuladores de políticas públicas comprendam que a formação de público capaz de compreender o fenômeno literário (em seus gêneros e estratos os mais diversos) é imprescindível para a sobrevivência da democracia, especialmente neste momento em que a mentira, a falsificação e a inversão de conceitos circulam em velocidade de megabytes.
Neste processo, os escritores, tão escorraçados nos anos de bolsonarismo (e censurados ainda hoje, por resquícios do autoritarismo incrustado em escolas e governos), precisam entender seu papel e assumir a dianteira da sua própria atividade criativa.
Hora de nos mobilizarmos novamente. Hora de pensar, debater e agir.
Por que não?