Compartilhado de Jornal GGN –
Sarí Côrte Real, primeira-dama de Tamandaré, responderá por homicídio culposo. Nas redes sociais, tragédia é associada ao racismo estrutural
Jornal GGN – Um menino de 5 anos, filho de empregada doméstica, entra no elevador parado no quinto andar de um apartamento de luxo no litoral do Recife. A patroa, flagrada pelas câmeras de segurança, sabe que a criança procura pela mãe – que saiu com os cachorros a pedido da própria empregadora – e não intercede. Na sequência, o pequeno chega sozinho ao nono andar, de onde caiu de 35 metros de altura, porque a área próxima da casa de máquinas não tinha tela de proteção.
Trabalhando em plena pandemia de coronavírus, a doméstica Mirtes Renata Souza perdeu o filho Miguel. E precisou vir a público, numa emissora de televisão, para que a identidade da patroa fosse revelada. Até então, a Polícia Civil, que investiga o caso, vinha mantendo o nome de Sari Corte Real em sigilo. Ela é esposa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker, do PSB.
“Se fosse eu, meu rosto estaria estampado, como já vi vários casos na televisão. Meu nome estaria estampado e meu rosto estaria em todas as mídias. Mas o dela não pode estar na mídia, não pode ser divulgado”, disse Mirtes à Globo.
Precisou a dona Mirtes Renata Souza, mãe do Miguel, ir à tv para todos saberem oficialmente que a patroa protegida pela Polícia Civil de Pernambuco é Sarí Gaspar Côrte Real, esposa do prefeito de Tamandaré: “Se fosse o contrário, eu nem teria direito a fiança”. #justicapormiguel pic.twitter.com/i3KVWziTQd
— Markos 🌈 ▽▲ (@MarkosOliveira) June 4, 2020
Presa, Sara pagou fiança de R$ 20 mil e deixou a prisão. Responderá em liberdade à acusação de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
A negligência da patroa gerou comentários sobre o racismo estrutural nas redes sociais.
A ex-deputada Manuela D’Ávila questionou por que a patroa não foi capaz de acolher e cuidar da criança enquanto a doméstica não estava presente.
Miguel, querido Miguel. Eu olho pra você e penso que você tinha a idade da Laura. O que fez com que você entrasse naquele elevador aos prantos, procurando sua mãe? O que fez com que você não fosse acolhido como minha filha é cada vez que chora quando me acompanha no trabalho? pic.twitter.com/d9rvYw4k4y
— Manuela (@ManuelaDavila) June 4, 2020
O deputado federal Valmir Assunção, do PT da Bahia, associou o caso ao “retrato da desigualdade social, de como são tratadas as vidas negras.”
Eu sinto dor. A notícia da morte do menino Miguel é devastadora. Retrato da desigualdade, de como são tratadas as vidas negras, de como o racismo é entranhado de forma mesquinha. À Mirtes, mãe, preta e doméstica, minha solidariedade. Miguel, presente! #justicapormiguel
— Valmir Assunção (@DepValmir) June 4, 2020
A deputada Talíria Petrone endossou.
Miguel, 5 anos, estava no trabalho com a mãe, em plena pandemia. A patroa mandou a mãe passear com os cachorros enquanto fazia as unhas em casa. Irritada com o choro do garoto, o colocou no elevador. Ele caiu do 9 andar. Esse é o retrato da elite escravocrata.#JustiçaPorMiguel
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) June 4, 2020
A chef Paola Carossela falou da “complexidade do racismo”.
O que aconteceu em Recife, é um triste exemplo das complexidades do racismo. A negligência com a vida de Miguel é resultado de uma lógica racista onde os filhos de mulheres negras tem menos valor que as vaidades de mulheres brancas.#justicapormiguel
— Paola Carosella ⚡️+ @winniebueno (@PaolaCarosella) June 4, 2020