Não sinto aquela sensação de revanche, mas tenho nos lábios um riso gostoso, daquele gozo de quem, finalmente, aprendeu a esperar o doce esfriar. Pois assim podemos sentir os sabores – no caso identificar as nuances – dos diferentes elementos que constitui o prazer.
Por Adriana do Amaral, compartilhado de seu Blog
Hoje, celebro a Justiça brasileira, mas ainda morna. Sei que terei de esperar um pouco mais até o “caldo” tomar corpo.
Há anos, lembro-me bem, assustei-me com a nomeação do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Confesso que o passado como Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo me apavorava. Ainda não me sinto completamente confortável, mas admiro a maneira como ele balançou as estruturas da justiça brasileira e vem conseguido – sim, ele é protagonista – unanimidades raras.
Dois episódios recentes mostram que, tudo indica, mudamos o rumo da história recente do Brasil: a cassação do mandato de Deltan Dallagnol e a condenação de Fernando Collor de Mello. Com provas e sentenças baseadas na lei. Mas, falta muito para que a justiça realmente seja feira, de fato e direito.
Carrego na mochila o broche “sem anistia”. Repito: não se trata de perseguir os algozes que nos ensinaram tanto sobre o ódio, sobre a mentira, a mesquinhez, a soberba, a arrogância, a corrupção, o coleguismo, o descaso com a vida humana…
Trata-se de Justiça. Sofremos na pele e ainda muito de nós, como eu, sofre os efeitos na alma pelas relações desumanas desveladas…
Registro aqui a frase que, para mim, define com precisão a legenda da fotografia que ilustra este texto:
“A fina flor do neofascismo nacional,”
Não é minha, é do jornalista do ICL – Instituto Conhecimento Liberta – @CesarCalejon.
Ao repeti-la lembro que que nós, cidadãos brasileiros, somos regidos por três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Três forças independentes que, se trabalharem idealmente, conseguirão nos fazer do Brasil uma Pátria que merece ser amada. Está difícil!
Lula tem um desafio para colocar em prática o governo popular: desmontar as armadilhas do governo anterior e arapucas resultantes da Frente Ampla. Mesmo com esses limites, trata-se de um Executivo respaldado por um ministério (quase totalmente) comprometido. Presidente que está fazendo história – e política pública e internacional – de novo.
O Judiciário vem avançando, alicerçado na sua independência como poder constituído, derrubando a tese do revanchismo. Mas, falta muito. Ainda convivemos com um desaforado um ex-presidente que tem de ser julgado pelos muitos crimes cometidos. Ele não está só. Há muito a ser investigado, apurado, provado e, se tudo correr bem, sentenciado.
Já o Legislativo… Este realmente será um desafio! Forças antagônicas terão muito a dialogar e decidir juntos.
Quanto ao quarto poder, a imprensa, repito outro colega jornalista, Leandro Demori, do Intercept Brasil e também do ICL:
“Não queremos notícia processada.”
Ou seja, queremos informações tal picanha – ou para os veganos, soja sem agrotóxicos. Não salsicha. Queremos “comida de verdade”.
Temos pouco menos de quatro anos para aprender a reagir.