A inesquecível marca de José Gregori na consolidação dos direitos humanos

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Foi o verdadeiro construtor da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos, graças à sua enorme capacidade de negociação

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José Gregori acompanha Margarida Genevois em ato pela democracia, no Tuca, durante campanha de Lula à presidência – Foto: Áurea Lopes

por Paulo Sérgio Pinheiro

José Gregori acaba de nos deixar. Querido companheiro em tantas frentes, em tantas lutas de direitos humanos. Fiquei contente de ao menos ter podido me despedir dele (sem saber que seria a última vez que nos encontrávamos) no domingo passado. Totalmente lúcido, respirando com oxigênio, estendido com elegância numa chaise longue, falando com uma voz baixinha, que sua filha Bibia me repetia, fazia análises sobre o presente, pleno de esperança sobre o Brasil de agora.

Tive com ele uma cumplicidade de toda a vida, na hora de tomar decisões, de avançar, escolher as resistências menores, de definir projetos. Fazia sugestões para ações da Comissão Arns como se tivesse todo o tempo à sua frente. Companheiro desde a primeira hora da Comissão Teotônio Vilela, criada em 1983, por Severo Gomes, durante trinta anos. Era o único que tinha um cargo público, deputado estadual, e lá ia ele na frente, abrindo as portas de prisões e manicômios. Faz pouco tempo, em 2019, na Comissão Arns, da qual foi um dos fundadores, abrigou reuniões na sua casa.

Convivemos nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, desde a preparação dos dois Programas Nacionais de Direitos Humanos, a transformação do 7 de setembro em dia de direitos humanos, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos e tantas realizações. Na preparação do primeiro Programa (que assim ele chamou e não plano, como previsto) percorri com ele vários estados para encontros com a sociedade civil. Quando eu insistia em algumas posições que não iam ser aceitas, me sussurrava: “Paulo, essas propostas são um verdadeiro zeppelin de bronze, não vão decolar…”

Foi o verdadeiro construtor da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos, graças à sua enorme capacidade de negociação, com todos os setores militares e civis. Seu trabalho com a Comissão permitiria a reparação para as famílias dos desaparecidos políticos. Na mesma linha, décadas depois, apoiou desde a primeira hora a criação de uma Comissão Nacional da Verdade.

Liderou um grupo de ex-secretários e ministros de direitos humanos em visita aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (que presidia José Sarney), para aprovarem o projeto encaminhado pelo presidente Lula, certamente determinante para a Comissão que a presidenta Dilma instalaria em 2012.

Com o desaparecimento do nosso querido Zé Gregori se fecha uma época marcada por seu ecumenismo político militante – raríssimo nos dias que correm – mesclado em elegância, distinção e sensibilidade, com experiência política acumulada, que sempre elevavam o tom para melhor, em qualquer discussão. Tudo banhado num senso de humor finíssimo. Era um criador de frases e comparações criativas originalíssimas.

Felizmente, o fato de ele nos deixar não significa que vamos nos esquecer dele, pois tudo que foi construído em direitos humanos, desde a resistência à ditadura, a construção da transição, até a resistência à extrema direita e a derrota do inominável, traz a marca de José Gregori. A imagem que me vem à cabeça, agora, é o José Gregori empurrando nossa centenária defensora de direitos humanos, Margarida Genevois, no palco do teatro Tuca, numa manifestação dessa última labuta de resistência.

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