A insanidade no cenário político atual

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Facebook

Tem muita gente, inclusive o gerente aqui, tentando entender o que houve desde a semana final do primeiro turno. Óbvio que tem muito picareta com a resposta pronta para explicar o tsunami fascista. Charlatão, com certeza, como muitos se revelaram na atual eleição, com destaque até, infelizmente, para os que enganam, e continuarão enganando nas esquerdas. Até agora existem apenas indícios e pistas sobre o que está rolando. Vamos a algumas, ressalvando mais uma vez que é epenas uma tentativa de entender o quadro.

A base factual é o crescimento avassalador das candidaturas de extrema-direita na reta final. Para começar, esqueçamos até o caso específico de Bolsonaro. Por enquanto, vamos com as eleições estaduais de Rio de Janeiro e Minas Gerais (um pouquinho menos, só um pouquinho). Em ambas, em 3 ou 4 dias que antecederam o 7 de outubro, candidaturas de extrema-direita dispararam e surpreenderam os institutos de pesquisa. Em comum, além do cardápio primitivo, a adesão ao bolsonarismo.




Entra em capo aí uma suspeita sempre lembrada aqui. Quando analisava pesquisa, e quem é freguês antigo pode atestar, o estabelecimento aqui sempre afirmou desconfiar de um “voto envergonhado” no fascismo, que não poderia mesmo ser identificado pelos institutos, por mais competentes que fossem (e são). As curvas eleitorais sugerem que realmente deve ter ocorrido o que era suspeita sem nenhuma base científica.

Outra trilha que merece ser enveredada é a do poder descomunal do whatsApp tanto nos dias próximos ao primeiro turno quanto, provavelmente principalmente, como “formador de opinião” no eleitorado. Foi e é a imbecilidade democrática. Desinformou pobres, despertou o ódio na classe média e solidificou a certeza dos ricos e idiotas esclarecidos. Na verdade, nem as esquerdas e nem o mundo democrático estava preparado para a novidade. Foi eficiente sim a usina de mentiras toscas, calunias, difamações e o mais sujo jogo político da História brasileira,

Avancemos, então, para o problema de fundo grave. Ok, o fascismo é sabidamente escroto, mas o fato é que ele encontrou um terreno fértil para se alastrar. Seria fácil mas  politicamente falso atribuir o fenômeno ao vulgar antipetismo. Nada indica que seja por aí. Políticos conservadores também foram abatidos pelo tsunami e, também, das esquerdas. Embora o boteco sempre tenha advertido que pesquisas sobre segundo turno feitas antes de 7 de outubro não teriam valor quase nenhum, é impressionante a distância entre Haddad e Bolsonaro quando se comparam as prévias anteriores ao primeiro turno com os levantamentos atuais. Haddad já era petista. E o gerente aposta que se Ciro fosse o representante do campo democrático contra o fascismo agora, enfrentaria a mesma imensa dificuldade com os números.

O que rola, e é preciso reconhecer, é que existem ouvidos mais receptivos hoje à retórica da barbárie, do ‘bandido bom é bandido morto”. Numa argumentação lateral, mas que serve,  como ignorar a ridícula votação (600 mil votos apenas) de um quadro extraordinário como Boulos? Não, não recorram ao argumento de falta de meios e dinheiro, que foi fato. Mas Boulos tece um terço dos sufrágios de Luciana Genro em 2014, que enfrentou o mesmo cerco. E, convenhamos, Boulos é 6 vezes melhor do que Luciana. O que mudou, sim, foi a conjuntura de 2014 para cá, muito mais favorável ao discurso fascista.

A esquerda, e o boteco se inclui entre os atônitos, precisa entender o fenômeno. Houve e há é um cerco portentoso comandado pelo Judiciário de fancaria em associação com o golpismo dos grandes meios de comunicação. Explica em parte, só em parte, o caso. E o que as esquerdas tiveram para enfrentar o confinamento? O maior líder político do país encarcerado e proibido até de se manifestar. E uma mídia de estilingue contra aviões. Sintomático que o site mais lido por esquerdistas seja de propriedade de jornalista que fez curso de 24 horas de marxismo ministrado por Daniel Dantas e Naji Nahas. Não é por acaso que lá se escreveu que Lula não seria preso, não seria condenado, que seria candidato, que Haddad terminaria o primeiro turno na liderança e outros delírios servidos a incautos bem-intencionados.

A tragedia está consumada? A caminho, mas ainda não realidade. Haddad tinha a necessidade dramática de transformar sua candidatura em frente política antifascista. A ideia foi atingida na testa com o tiro desferido pela cafajestada política executada por Cid e pensada pelos Ferreira Gomes. Carrega ainda o fardo Dilma Rousseff,. Sim, petistas religiosos, Dima é detestada pela imensa maioria do eleitorado. Foi criminosamente golpeada em seu mandato legítimo, mas comandou um governo muito ruim, que comporta críticas justíssimas à direita e à esquerda. Aceitem o fato ou continuem brincando de realidade paralela. E Dilma é um fantasma a ser carregado por Haddad, por mais que o  ex-prefeito de SP seja uma figura política incomparavelmente melhor.

O que pode acontecer ainda? No Brasil, brilhou na definição Pedro Malan, até o passado é incerto. De repente, e não é impossível, algum escândalo no armário cheio dos fascistas venha à tona. E se nada ocorrer? Vou contar um caso que vivi ontem. Estava saindo de um supermercado e uma moça me abordou meio envergonhada. Eu vestia uma camiseta do “Ele Não”. A menina deve ter uns 22 anos. “Obrigada por estar junto com a gente”, ela me disse. Expliquei que tenho um filho de 13 anos e não quero que ele cresça num país em que dar porrada em alguém por orientação sexual seja minimizado ou mesmo incentivado, em que o racismo seja considerado normal e em que os pobres não tenham acesso á cidadania; A menina, tão jovem, contou que tem 2 filhos e que não quer que suas crianças cresçam num mundo em que armas substituam livros. Linda na sua ingenuidade, se despediu dizendo que está fazendo o que pode, que participa de um grupo de zap que combate Bolsonaro. Pois então,. Não estamos sós. É é em nome também daquela moça da Frei Caneca que devemos lutar até o fim. A História não é estática e não e é construída apenas por resultados eleitorais. As causas são fundamentais e a mais nobre delas é barrar o fascismo. Com Haddad contra a barbárie! Pelos milhões de filhos como a da moça da Frei Caneca!

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