Por Abel Duerê, compartilhado do Jornal Okwanza –
Inveja …. é um sentimento de angústia, ou mesmo raiva, perante o que o outro tem, ou o que o outro representa de bom num todo. Este sentimento é, sem dúvida, um dos piores sentimentos do ser-humano, que gera um estado de espírito tão baixo que o ser que por ela está possuído tem até o desejo que algo de ruim aconteça ao invejado. O despertar da inveja é sempre alguma coisa que poderia revelar o que está faltando na personalidade daquele que sente.
Foi exatamente isso que percebi na atitude deprimente do partido MPLA, quando através da sua liderança parlamentar, inviabilizou, no início desta semana, a aprovação de uma declaração de reconhecimento ao músico Waldemar Bastos e voto de pesar, feito a pedido do vice-presidente do Grupo Parlamentar da UNITA, Maurílio Luiele.
Angola, de Cabinda ao Cunene, sentiu forte a partida do seu filho, um dos mais queridos e expressivos artistas de toda a História da Nação. O Mundo Lusófono entristeceu-se. Atrevo-me a dizer que não há outro que tenha partido, que se fará sentir tanto quanto a sua falta. Waldemar não era apenas um artista e sim um cidadão da mais alta dignidade, um SENHOR que nunca alinhou com a mentira e a hipocrisia tão praticada ao longo dos anos pelos senhores (com letra bem pequena) da nossa terra. Waldemar… um angolano nato. Além de tudo um poeta apaixonado pelo seu povo, que com muita intensidade se propôs a divulgar a nossa verdadeira cultura pelo mundo afora, que o reconheceu, como atestam as várias distinções como os prêmios “New Artist of the Year “. E o Prêmio Nacional de Cultura e Artes.
A sua poesia era simples, mas muito profunda. Fazia música para todos …sentida no coração sofrido da “Velha Chica” ou no doce da “Lalanja Madura “
No mesmo dia da sua partida, as Redes Sociais encheram-se das obras de Waldemar e não pararam. A “Velha Chica“ foi a mais escutada, em várias versões e shows dos mais diversos artistas além de Waldemar. Desde a simples canção em voz e violão até com mais nobre orquestra sinfónica de Londres. A sua presença elegante e voz inconfundível emocionam sempre a todos. Já se passaram alguns dias e continuo escutando todos os dias Waldemar sem me cansar de tanta emoção. Nunca ouvi tanto Waldemar e é assim que o verdadeiro artista se torna eterno. Eterno não só em nossos corações como no que há de mais lindo e especial em nossas vidas: A MÚSICA.
Talvez tenha sido essa inveja que o pobre político angolano sentiu. Aquele político que não representa, nem nunca representou de facto a vontade do seu povo. Foi assim que eles se comportaram esta semana no Parlamento e, aliás, ao longo de muitos anos com o Waldemar que nunca se curvou aos desejos insanos. A esses nunca lhes será dado a Honra. Nunca serão amados nem nunca ficarão na História. Isso não tem preço isso é dom de Deus!
Waldemar nasceu para servir o Deus da Arte da sensibilidade, da simplicidade, de tal forma que o mesmo o inspirou a fazer “Velha Chica”, uma canção que em quatro estrofes tem a capacidade de contar toda a luta e os anseios de um povo, uma canção que faz chorar até os menos sensíveis.
Numa entrevista dada em 2019 à TV ZIMBO, uma frase de Waldemar Bastos a qual eu assino em baixo com letras garrafais: “TENHO CONSCIENCIA QUE DEI O MELHOR DE MIM POR ESTA NAÇÃO E DEI POR AMOR”; assinado WALDEMAR BASTOS
Obs. Quando terminei esta crônica foi-me informado que o Parlamento angolano voltou atrás e resolveu, então, agora, homenagear Waldemar Bastos e Carlos Burity, outro filho que, sem duvida, ficará na nossa História cultural.
Esta é a minha humilde homenagem aos dois amigos que tive a honra de partilhar palcos em Angola e no Brasil.
Músico e autor*
Especial para O Kwanza**