A liberação dos brasileiros espalha a correção exemplar da política externa brasileira na crise da Faixa de Gaza

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Se essas famílias de brasileiros respiram agora aliviados, é graças ao paciente pragmatismo brasileiro na construção de condições diplomáticas junto a Israel, palestinos e egípcios

Compartilhado de Brasil 247




Com o desfecho da saga de retorno dos 32 brasileiros impedidos por 35 dias de sair da Faixa de Gaza, encerra-se um ciclo historicamente curto, uma eternidade para os envolvidos, e ao mesmo tempo exemplar.

Brasileiros resgatados vieram a público agradecer os esforços do presidente Lula e da diplomacia brasileira. Estes se desdobraram em toda forma de apoio. Após tantas e inexplicáveis delongas, a travessia pelo portão de Rafah se concretizou. O grupo deixou para trás a prisão em que se transformou a Faixa de Gaza. Os brasileiros escapam do bombardeio a que Israel agora submete impiedosamente a região. A humanidade assiste a uma carnificina que visa os civis. Sofrem em especial os mais vulneráveis como crianças, mulheres, anciãos e enfermos.

O governo Lula colocou a segurança dos brasileiros colhidos no conflito em primeiro lugar. Foi esse o vetor que orientou e submeteu todas as iniciativas e interesses em jogo. Trata-se de uma inversão quanto ao que ocorreu durante a administração Bolsonaro na pandemia de Covid-19, por exemplo, quando centenas de milhares de vidas poderiam ter sido poupadas se as ações do governo não fossem atadas por camisa de força ideológica e negacionista.

Se essas famílias de brasileiros respiram agora aliviadas, voando no avião presidencial em direção ao Brasil, é graças ao paciente pragmatismo brasileiro na construção de condições diplomáticas junto a Israel, palestinos e egípcios. Uma combinação de diálogo e pressão exercida sob condições de guerra, sob a mais extrema complexidade.

De fato, essa atuação mais localizada deu-se no interior de um conflito maior diante do qual o Brasil por razões políticas e morais não poderia se omitir.  

Nos 33 dias desde a incursão de resistentes do Hamas e outros grupos pelo muro que cerca a maior prisão do mundo, local de refugiados da Palestina histórica, já morreram mais de 11 mil palestinos em consequência de combates e do bombardeio inclemente

Foram destroçados cerca de 10 mil prédios na Faixa de Gaza. Um milhão e meio dos 2,3 milhões de palestinos estão sendo obrigados a abandonar casas e cidades desfiguradas. São tocados para uma excruciante “marcha para o sul”, comboiados como animais pelos ocupantes israelenses. Estes estariam interessados, além do exercício da vingança punitiva contra os civis palestinos, nas jazidas de  gás natural existentes no litoral da Faixa de Gaza.

O Brasil de Lula não poderia se omitir diante desses fatos, nem descurar do contexto histórico mais geral em que se instalou o conflito.

Por mais de uma ocasião, Lula, o chanceler Mauro Vieira e o assessor internacional do presidente, Celso Amorim, protestaram contra o “genocídio” em curso. Ao mesmo tempo, trabalharam junto à diplomacia mundial para uma pausa humanitária nos ataques, afinal parcialmente conseguida.

Para além disso, Lula e a diplomacia trabalham para dobrar a feroz resistência estadunidense e israelense para a construção de uma saída conjunta e multilateral para o conflito.

Nesse ambiente de desavenças e choques de interesses em diferentes planos move-se a diplomacia brasileira. É um mundo em que decai a hegemonia unipolar de Washington e se insinua o protagonismo – nem sempre bem-vindo – de novos atores como o Brasil.

Os beneficiados da velha ordem resistem de forma renhida, com ações diversionistas. O próprio premiê israelense, Benjamin Netanyahu, tomou a iniciativa soez de fazer publicidade da versão de que o Mossad, a espionagem israelense, comandaria a Polícia Federal brasileira numa suposta conspiração do grupo Hezbollah, a partir do Líbano, para explodir sinagogas no Brasil. 

Não poderia haver reconhecimento mais explícito do acerto brasileiro, mesmo em atmosfera tão carregada. 

O ser humano, o país, o diálogo e a paz revelaram-se as prioridades práticas de uma política externa que se norteia por resultados.

Nos próximos dias, desdobramentos serão inevitáveis a partir da liberação dos brasileiros. Até Jair Bolsonaro se insinuou numa reunião patrocinada pelo próprio embaixador israelense em Brasília.

Não está descartado protesto formal do Brasil frente à chancelaria de Tel Aviv. A ruptura de relações com Israel já foi examinada. A palavra está com o lado brasileiro.

Mais do que nunca, Israel lamentará o dia em que um seu ministro usou a expressão “anão diplomático” para tentar conter a ascensão do Brasil – e não apenas pela carga de preconceito contra os anões.

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