A longa relação entre Bolsonaro e Ronnie Lessa, o suspeito da morte de Marielle

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O ex-PM, vizinho do ex-presidente, foi quem foi devolver para ele, em 1995, uma moto roubada; o ladrão foi executado tempos depois

Por Julinho Bittencourt, compartilhado da Revista Fórum




Bolsonaro e Ronnie Lessa.Créditos: Marcos Correa/PR/Reprodução de Vídeo/Montagem

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou não conhecer o ex-sargento da PM Ronnie Lessa, apontado em delação premiada por seu comparsa, o também ex-policial Élcio de Queiroz, como o autor dos disparos que mataram a então vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

Lessa morava na mesma rua do mesmo condomínio que Bolsonaro, o Vivendas da Barrra, no Rio de Janeiro, e foi preso no local em março de 2019. O vizinho dos Bolsonaros guardava na ocasião “um verdadeiro arsenal, o que só demonstra que ele não é uma pessoa voltada à paz, uma pessoa que tem personalidade violenta”, disse na época a promotora de Justiça, Simone Sibílio, que liderou as investigações, em entrevista a jornalistas.

Não lembro dessa cara. Meu condomínio tem 150 casas“, afirmou Bolsonaro na ocasião.

A relação dele com Lessa, no entanto, – que ele disse não conhecer – vem de longe. Quando ainda era candidato à presidente, em 2018, ele contou de um assalto que sofreu numa entrevista para o “Roda Viva“, programa da TV Cultura.

“Eu fui assaltado, sim. Eu estava numa motocicleta, fui rendido. Os dois caras, um desceu e pegou por trás o registro. Dois dias depois, juntamente com o nono batalhão da Polícia Militar, nós recuperamos a arma e a motocicleta e, por coincidência, o dono da favela de Acari, onde foi pega, foi pego lá. Lá estava lá. Ele apareceu morto um tempo depois, rápido. Eu não matei ninguém, nem fui atrás de ninguém. Mas aconteceu”, afirmou.

O ativista de direitos humanos Wanderley Cunha, o “Deley de Acari”, afirma que quem foi devolver a moto e a pistola a Bolsonaro foi o então cabo do Bope, Ronnie Lessa.

“Vários jornais da época saíram que o capitão Bolsonaro teria pego a moto no pátio do 9º batalhão, em Rocha Miranda. Eu vi algumas matérias antigas de jornal nessa época. A informação que eu tenho é diferente dessa. É que o cabo Lessa teria levado a moto na casa do capitão Bolsonaro na Vila Isabel.”

De acordo com dados da Polícia Militar, Lessa era soldado do Bope em 1995, mas Deley afirma que o coronel Alves relatou assim a presença dele naquela época. “A informação dada por ele é que o cabo Lessa teria levado a moto, entregue a moto na casa de Bolsonaro na rua Torres Homem. O que contrasta com a informação que li no jornal de que o capitão Bolsonaro teria recuperado a moto, teria pego a moto no pátio do nono batalhão”, informou.

Ajuda com a prótese

Não foi a única vez que os dois se encontraram. Em entrevista exclusiva às jornalistas Marina Lang e Sofia Cerqueira, publicada na VEJA em março do ano passado, Lessa também confirmou que recebeu ajuda do presidente Jair Bolsonaro no fim de 2009 — embora afirme que mal o conhece. Depois de perder parte da perna esquerda na explosão de uma bomba em seu carro, ele conta que o presidente, então deputado federal, intercedeu para que seu atendimento fosse priorizado na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), no Rio de Janeiro. “Bolsonaro era patrono da ABBR. Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polícia porque é quem o botou no poder. Podia ser qualquer outro policial”, disse.

O namoro entre os filhos

Outras evidências ainda pontam para a relação entre Bolsonaro e Lessa. Uma delas seria o namoro entre o caçula do ex-presidente e a filha do ex-PM. O jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e autor do livro “A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”, apontou uma inconsistência grave nas investigações do assassinato de Marielle Franco, em 14 de março de 2018.

Na época do crime, foram apontados vários registros de telefonemas entre as casas do então deputado federal Jair Bolsonaro e o sargento da reserva da Polícia Militar, Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle. Os dois moravam no mesmo condomínio no Rio de Janeiro, o Vivendas da Barra.

A história de um suposto namoro entre a filha de Lessa e Jair Renan, filho de Bolsonaro teria surgido para justificar esses telefonemas.

“Essa história surgiu porque se identificou uma série de trocas de telefonemas entre a casa da família Bolsonaro com o Ronnie Lessa, que é o autor do caso da morte da Marielle. O álibi disso foi por causa do Jair Renan ter namorado a filha do Ronnie Lessa. Esse seria um dos motivos para haver ligação”, disse Bruno Paes Manso em entrevista ao Brasil 247, em 2022.

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