A luz que ilumina Moacir se soma à pauleira de Paulo, por Aquiles Rique Reis

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Ouvi-los no papo ou cantando é como sacar tratado de antropologia, em que graça rola pela tangente, esbarra na sabedoria e deságua na finura

Aquiles Rique Reis, compartilhado de Jornal GGN




Tenho aqui comigo o EP de Moacir Luz e Paulo Malaguti Pauleira – dois amigos irmanados pela carioquice e que têm o som da música na alma e no falar –, que é um brinde à delicia dos ouvidos musicais dos brasileiros que se amarram em boa música.

            Ouvi-los batendo papo ou cantando é como sacar um tratado de antropologia, em que a graça rola pela tangente, esbarra na sabedoria e deságua na finura esperta dos moradores da Baixada, da zona Norte ou da Sul. Galera que corre atrás do “cascalho” não abre mão do “traçado”, muito menos se inclui fora de dar sempre uma chegada no Samba do Trabalhador, onde Moa comanda a roda há um tempão no Clube Renascença, lá no Andaraí – o povo tá sempre dentro (com todo respeito). Mulheres e homens que são a cara do carioca, aquele que sabe rir de si mesmo e madruga pro corre.

            Pois bem, eles lançaram Luz e Pauleira Volume 1 (Mills Records), que traz letras do Moa com pitacos do Pauleira, ele que criou as melodias, tocou teclado e violão e dividiu a cantoria com o parceiro. Por falar em cantoria, Pauleira é meu companheiro de MPB4 há 11 anos. A tampa abre com “No Andaraí”. Pauleira revela: “Este samba eu fiz pensando no João Donato e o Moa faz uma homenagem ao grande Marcelo D2. Nessa faixa temos o Carlinhos 7 cordas e o Marcos Esguleba na percussão”. 

            Moacir Luz e Paulo Malaguti Pauleira revivem as duplas que tanto fizeram sucesso ao longo dos tempos. Inspirado por D2, o ritmo é irresistível. A melodia do Pauleira é porreta como uma prosa na mesa de um bar, assim como a letra do Moa, íntimo das palavras, é instigante como uma tela da Anita Malfatti. E, de fato, através de versos leves, o balanço do Donato invade os ouvidos do ouvinte: “No Andaraí/ Onde eu cresci/ Não tinha mar, nem tatuí/ E foi ali que eu aprendi/ Me virar me vestir (…)”.

            Já sobre “Pra Tocar No Violão”, Pauleira diz: “É um tema meio sertanejo que compus no violão, e a letra fala de gente sem noção, que pega o seu violão sem pedir licença”. Acrescento: o acordeom de Bebê Kramer e a viola do Paulo Brandão (ele que produziu o EP) têm força. A letra do Moa vem maneira pela voz da dupla. O acordeom improvisa com sabedoria. A viola ponteia. As vozes seguem na cantoria. Feras!

            Referindo-se a “Pedras Rolam”, Pauleira dá a dica: “Esta fala desse link da música preta brasileira e do jazz/rock americano/inglês. Os convidados são o baixista Fábio Girão e o guitarrista André Pinto Siqueira.” O baixo puxa o roquenrrol. O teclado realça a melodia. Moa e Pauleira cantam os versos. E, enquanto homenageiam os instrumentistas do mundo, suas vozes vêm embaladas por efeitos sonoros.

            Assim, a luz de Moacir se somou à pauleira de Paulo, demonstrando que a música é, sim, imprescindível a todo povo que através dela se liberta para realizar seus sonhos de bem viver.

Aquiles Rique Reis

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