Por Sergio Medeiros, publicado em Jornal GGN –
Lula é maior que o PT, e a manutenção de sua candidatura é essencial para a volta de uma, ainda que frágil, democracia.
Ainda que alguns não gostem, que parte da militância partidária e alguns dirigentes contestem a dimensão da importância de Lula, o fato é que hoje, inegavelmente, Lula se tornou muito maior que o PT.
De tal constatação emergem várias análises, sendo que todas deveriam convergir até o ato final da prisão de Lula, este expoente da politica e história brasileira, de modo a explicar, esmiuçar e desnudar, os atuais movimentos dos que se apossaram do poder (explicitamente, golpistas de todo calibre, oportunistas de toda sorte, antidemocratas por definição).
Pois bem, tomando-se a premissa de que Lula é o maior e mais importante político brasileiro e que se tornou bem maior que seu partido em grau de influência e apoio, popular e da sociedade civil, temos os seguintes cenários.
Por um lado, num regime presidencialista, o partido ao qual Lula pertence, em tese, se beneficia desta sua maior abrangência e apelo eleitoral.
De outra banda, sendo tal força centrada numa única figura, se torna frágil perante uma aventura qualquer seja politico judiciária, como a que estamos assistindo, ou mesmo decorrente do ódio fascista que vitimou figuras como Marthim Luther King.
Por fim, apesar da multiplicidade, organização e estruturação, em várias instancias e com vários níveis de deliberação e análise, a estrutura partidária se distribui em várias células, algumas maiores, outras de caráter quase paroquial, mas cujo eixo central passou a ser não o partido em si, mas seu líder, daí sua força e sua fraqueza.
Estes são os dados essenciais da análise.
O primeiro movimento, e basta olhar nas inúmeras manifestações da grande mídia e de Ministros do Supremo Tribunal Federal, por ocasião da AP 470 (midiaticamente chamado de mensalão),foi no sentido de exclusão do Partido dos Trabalhadores do cenário político nacional.
Entretanto, tal medida, na oportunidade, esbarrou na impossibilidade imediata ou inviável socialmente, de simplesmente tentar extinguir o Partido dos Trabalhadores, seja pelo potencial explosivo, decorrente muito mais da fragmentação e do número de pessoas que seriam diretamente atingidas por tal ato, seja porque tal agremiação política se estruturava enquanto força nacional e tinha como suporte uma figura exponencial, no caso o Presidente Lula (que inevitavelmente seria atingido pela medida – Presidente e Partido de uma vez só era ruptura que se entendeu demasiada).
Tais movimentos, apesar do parcial êxito, na demonização do Partido e na ascensão do mito da corrupção partidária, bem como na prisão de figuras eminentes, evidenciaram a impossibilidade de se atacar o partido antes que se procedesse a destruição do alvo maior (lula) e mais fácil de ser atacado por sua singularidade.
Em outros termos, a desagregação da sigla mediante sua supressão, não teria o efeito desejado, pois subsistiria seu líder, o qual inevitavelmente voltaria maior e com mais força, pois desatrelado do estigma midiático partidário e ainda grande e forte o suficiente para novamente aglutinar todo um formidável agrupamento social disperso.
Assim, a estratégia inicial de inviabilizar jurídica e politicamente o setor de esquerda a partir da retirada do cenário do PT, não se revelava uma medida eficiente e, pior, com sequelas de efeito contrário, tanto no campo da comoção social, com vários pequenos líderes, levados pela necessidade imperativa da retomada do seu chão político, atuando de forma até mesmo suicida, os quais, de pronto cerrariam fileiras com seu líder, num movimento que buscaria mais do que a mera sobrevivência e poderia resultar na famosa fagulha, que uma vez acesa incendeia o país, cria a ruptura institucional e torna qualquer solução política ideológica possível, e, pode, por outro lado, até mesmo ser o germe da destruição de todas instituições e economia locais.
Este um dos possíveis cenários, certamente um dos mais prováveis.
Deste modo, não tenham dúvidas, a escolha de mirar em alvos certos e definidos para aos poucos alcançar a figura do líder maior Lula, foi feita conscientemente e de forma gradual, desde a criminalização absurda do PT na AP 470 (mensalão), onde as culpas não foram provadas, mas os líderes e o partido dos trabalhadores foram condenados, inapelavelmente , até o impeachment forjado da Presidente Dilma.
O desfecho final, resulta em centrar forças contra Lula, pois uma vez retirada esta peça do xadrez político, não haverá mais o suporte capaz de agregar todas as forças hoje existentes, não somente no PT, mas no campo social que se denomina de esquerda, e, as quais ninguém ignora, se agrupam em inúmeras correntes internas, bem como não existirá a adesão de um contingente formidável de pessoas, que se movimenta essencialmente em torno do Presidente Lula e de sua imagem pessoal carismática.
Aqui faço um alerta, os que tentam dissociar a eleição presidencial deste quadro, e colocar a candidatura de Lula como opcional, não entendem que ao fazer e defender tal proposta, retiram a única possibilidade real de resistência ao grupo que procedeu ao golpe de estado e que culminou no atual regime de exceção jurídico midiático.
Retirar a figura central de Lula, como centro da disputa neste xadrez politico institucional, significa aceitar a entrega do Rei, para que os peões tentem a retomada.
O resultado todos sabem, caindo o Rei, perde-se o jogo, e os peões, mesmo em sua totalidade, de nada valem, não há mais jogo.
A defesa de Lula e a manutenção de sua candidatura é essencial para a volta de uma, ainda que frágil, democracia.