Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Há no mundo inegavelmente um avanço de direita e ultra direita. O retrocesso é atestado nas urnas de Europa, Estados Unidos e América Latina, com raras e honrosas exceções.
Felizmente, por enquanto ao menos, o Brasil, embora cindido politicamente, está incluído entre os que resistem ao atraso.
Até poucos anos atrás, seria impensável que a França, por exemplo, vivesse seguidamente o perigo de chancelar o fascismo pelas urnas. Tampouco imaginar a ascensão de partido neonazista na Alemanha.
A Europa de hoje está cercada pela demência política. Pior, a antiga classe trabalhadora testemunha suas organizações sindicais históricas cada vez mais enfraquecias. É fato, infelizmente.
Chegamos à Meca do capitalismo, os Estados Unidos. Embora a História registre que não há grandes diferenças, para um país como o Brasil, entre democratas e republicanos quando o assunto é proteger os interesses do imperialismo, Trump é a prova da imbecilização crescente do americano médio. Insanidades e bravatas medievais sobre deportações em massa, anexação de territórios e países vizinhos já soam como normalizadas em grande parte dos Estados Unidos, com o óbvio reflexo mundial pelo peso daquele país.
Na América do Sul, temos o impressionante fenômeno Milei. Sim, é impressionante. Apesar das atrocidades sociais como numa canetada diminuir em 27% o pagamento das já pobres aposentadorias argentinas, o homem continua com apoio majoritário da população, segundo pesquisas razoavelmente confiáveis.
E nas ruas não se vê movimento suficiente para barrar as loucuras da sanha sobre os miseráveis argentinos, que, não por acaso, aumentam exponencialmente. Os argentinos ainda dão um crédito a Milei, cansados que estão de anos de hiperinflação.
Há, no Continente, ao menos na teoria, alguns pontos de resistência, Até quando aguentar a pressão econômica do gigante vizinho, o México, também a Colômbia de Petro, com popularidade em queda e o Chile de Boric, também mal das pernas no quesito aprovação interna. E o Brasil de Lula, o mais importante País da América do Sul.
Lula sofre de, chamemos assim, um “vício de origem”. A mesma urna que o consagrou como novamente Presidente da República escolheu uma avassaladora maioria de direita e extrema-direita no Congresso, especialmente na Câmara. Não há solução fácil para esse impasse democrático. A fórmula clássica, pressão nas ruas para forçar avanços, sabemos todos que não é possível hoje. Não há mais mobilização popular como ocorria em passado recente.
A necessidade de negociar com o atraso parlamentar choca uma esquerda radical, que vocaliza nas redes sociais a oposição ao governo petista às vezes em tom parecido com o da extrema-direita.
Não chamam a rua por saberem que não têm peso nenhum na sociedade, mas esbravejam bastante. Atrapalham um pouco, só um pouco, mas são insignificantes diante do perigo real, a direita e extrema-direita em 2026.
Lula está cercado politicamente hoje. Resiste com alguma folga graças ao carisma e a adesão dos mais pobres. Mas preocupa que os setores progressistas confiem apenas nos atributos de Lula a tarefa de defender e apoiar o governo. Agem como moradores de uma casa incendiada sentados no sofá da sala esperando a chegada de bombeiros.
Há dificuldade de entender as mudanças na antiga classe trabalhadora, sim. Ninguém tem a varinha mágica para apontar a solução, que se fosse óbvia já teria sido adotada.
Mas preocupa demais a letargia da maioria para perceber há um avanço mundial da reação e que só não entramos oficialmente nesse tsunami medieval por contar com a figura única de Lula. Como um mantra, repetimos “Lula pode muito, mas não pode tudo”.