A mentira como arma de propaganda, por Diogo Costa

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Por Diogo Costa, Jornal GGN – 

ESTRATAGEMAS DE UMA GUERRA AINDA NÃO DECLARADA – Vimos ontem uma série de manifestações pelo Brasil, a favor da derrubada de um governo legitimamente eleito pelo povo brasileiro. A mandatária principal do país nada tem e nem terá contra si, mas isso é apenas um detalhe na mente fascista dos que perderam quatro eleições consecutivas. Estes demonstram o seu desespero, a sua raiva, o seu ódio e o seu ressentimento acumulados em quatro retumbantes e inapeláveis derrotas ministradas pela população mediante o sufrágio direto e secreto.




A guerra não declarada tem estratagemas bem definidos: busca criminalizar e destruir o Partido dos Trabalhadores, principal ferramenta que a classe trabalhadora conseguiu construir em quase 200 anos de independência política do Brasil. Esse ponto do estratagema nem novidade é. Alertávamos sobre isso antes mesmo do início do julgamento/linchamento da AP 470, simulacro urdido e feito com sádico prazer durante intermináveis quatro meses e meio, entre 02 de agosto e 17 de dezembro de 2012. Essa patranha teria o seu desfecho prolongado por mais algum tempo, até fevereiro de 2014.

Em maio de 2013 tivemos fatos importantes que merecem ser recordados. Estourou o escândalo da roubalheira do PSDB no metrô de São Paulo, o Congresso Nacional aprovou a nova Lei dos Portos (contrariando poderosos interesses de Daniel Dantas e de Eduardo Cunha no Porto de Santos) e, para arrematar, o vice presidente norte-americano, Joe Biden, deu as caras aqui em Pindorama. Incrivelmente, quando o escândalo do Tremsalão começava a ganhar corpo e ampla divulgação, iniciaram os “protestos” do junho de 2013. Se viu de tudo, menos uma “indignação cívica” contra os gatunos emplumados.

Alguns setores de esquerda tiveram múltiplos orgasmos com o junho de 2013, imaginando que se tratava de algo revolucionário. Que atroz miopia! Se o start foi a brutal repressão ao MPL, o que é absolutamente verdadeiro, não menos verdadeiro é o fato de que as massas que tomaram as ruas, até o ápice de 20 de junho, não levantaram uma única bandeira progressista. Se viu apenas a violência pela violência, o queimar de lixeiras, o quebrar de vidraças e a expulsão pura e simples de manifestantes que ousassem ostentar bandeiras de movimentos sociais, estudantis, sindicais ou partidários. Nada mais fascista.

Após o 20 de junho as massas arrefeceram e desde então restaram grupos de fantasiados fazendo performances pseudo revolucionárias e denunciando o “Estado Opressor”. Em verdade o junho de 2013 marcou, como os fatos estão sobejamente a comprovar, insistentemente, e dia após dia, a ressurreição do movimento de massas da direita brasileira. Esse movimento de massas da direita é algo que não víamos desde 1964. Ele não é restrito aos setores A e B da pirâmide social e tem um caráter entre populista e autoritário. Abarcou contingentes expressivos de lúmpens e alienados, de homens e mulheres simples que nada tem a ver com a elite política e econômica de sempre.

Um animal ferido e acuado se torna violento e raivoso. Os tetra vices do processo eleitoral brasileiro estão a despejar nas ruas todo o seu ódio e frustração por não conseguir atingir os seus objetivos políticos. Não teve AP 470, nem junho de 2013, nem Copa das Confederações e do Mundo, nem a passagem do PSB para as fileiras da direita reacionária, nem espionagem norte-americana, nem Lava Jato, nem crise econômica internacional, nem morte trágica de Eduardo Campos, nem Marina Silva fechada com a reação e nem pool máfio-midiático capazes de impedir a quarta vitória consecutiva do Partido dos Trabalhadores no último pleito.

A dor e a mágoa dos derrotados, num pleito duro e apertado onde tiveram uma ímpar e única conjuntura, espetacularmente favorável para quebrar o ciclo petista, deve ser e é lancinante.

A frustração do intento oposicionista é tão grande que resolveram demonstrar a sua falta de apreço pela democracia de forma desbragada. O estratagema a partir de agora é mentir, mentir, mentir e mentir, até não poder mais. Na Avenida Golpista, perdão, digo, Paulista, chegaram mesmo a dizer que havia 01 milhão de seres vivos, algo absolutamente falso e desmentido até mesmo pelo Datafolha, da Folha de São Paulo, instituto que pode ser acusado de tudo, menos de nutrir simpatias pelo PT, por Lula ou por Dilma Rousseff. No máximo se viu 210.000 pessoas.

O que chamou a atenção nem foi a “manifestação” em si, mas sim a cobertura frenética e fanática das Organizações Globo, conclamando a população a aderir ao golpe. Como diria Leonel de Moura Brizola: “Tem rabo de jacaré, pata de jacaré e boca de jacaré, que bicho será que é?” As Organizações Globo estiveram na linha de frente do Golpe de 64. Apoiaram a ditadura militar antes, durante e depois do golpe. Logo, nem é preciso ser um gênio das ciências políticas para saber que essa organização é, sempre foi e sempre será golpista. É um DNA, uma herança genética impossível de ser extirpada e que é condição sine qua non de manutenção do poder acumulado até aqui.

Veremos daqui para frente o que se viu entre os dias 13 e 15. Um pool de rádios, televisões e portais de internet mentindo e ocultando manifestações populares, e sempre puxando para baixo o número de participantes ao mesmo tempo em que convocam os derrotados para aderir ao golpe. Tudo com cobertura ao vivo, durante 24 horas por dia. E inflando, artificial e evidentemente, o número de quadrúpedes presentes (talvez contem o número por patas, não por cabeça…).

A direita pretende acuar o governo federal e o PT, acuá-los com fraudes grosseiras e grotescas como essa de aumentar em 05 vezes o número de pessoas presentes num ato golpista qualquer. Percebam também que com exceção de São Paulo, onde está localizada a viga mestra da reação golpista, desde 1932, em outros pontos do país as verde e amarelas ‘Marchas Sobre Roma’ não tiveram nada de espetacular, muito antes pelo contrário. A bem da verdade, basta pegar o mapa com os resultados do último pleito para saber com fiel precisão onde as marchas fúnebres tiveram maior ou menor êxito.

Dilma Rousseff está certa em não radicalizar, até porque a radicalização pressupõe que se saiba com precisão quais as reais forças que se tem, e as reais forças que tem o adversário. A esquerda está de frente com um movimento de massas da direita, que vem com força relativa depois de meio século de hibernação. É preciso tratar isso com a serenidade e a firmeza que o momento exige. Defender a democracia (sim, essa democracia liberal burguesa) é algo de crucial importância para a classe trabalhadora neste momento. Ou ainda há dúvidas a respeito do que os fascistas fariam se conseguissem triunfar?

Os novos Atos Institucionais dos neo fascistas difeririam em quase nada do que vimos na década de 60. Colocariam na ilegalidade todos os partidos de esquerda, fariam uma caça às bruxas contra militantes dos movimentos estudantis, sindicais e partidários, acabariam com a política de valorização do salário mínimo e não é de se duvidar que além de reimplantar a censura também proibissem as greves, ferramenta mais poderosa das classes laborais. Em suma, fariam o que já fizeram no passado: repressão, prisões em massa, retomada do abominável processo de exclusão social que, embora tenha sido atenuado com o PT, ainda é uma chaga sem solução adequada.

Outro ponto sobre o qual é preciso refletir é a questão das táticas de defesa contra a maré fascista. Ir para o confronto direto neste momento, dada a correlação de forças na sociedade e no parlamento, equivale a ir para o matadouro tecendo loas ao carneador.

Encerro dizendo que é preciso também olhar com lucidez o quadro econômico atual e o que está acontecendo ao nosso redor. A crise econômica internacional, que foi pouco sentida na América do Sul, bateu com força descomunal em 2014. O descontentamento com os governos de esquerda não se resume às conspiratas da direita e do seu amo político, os Estados Unidos. Fatores como a inflação de 70% na Venezuela e de 25% na Argentina também ajudam a corroer as bases populares destes governos. No caso brasileiro, o aumento na taxa de desemprego potencializa as críticas contra Dilma.

Não é uma verdade incontestável esta de atribuir os problemas do governo brasileiro simplesmente ao fator “falta de comunicação”. Nos países citados, Venezuela e Argentina, a comunicação governamental é infinitamente melhor que a brasileira e há protestos gigantescos e extremamente violentos (vide a oposição ao governo Maduro). O que vemos é uma rearticulação continental da direita depois de um ciclo considerável de governos progressistas que venceram e estão ainda a vencer os pleitos sulamericanos. Se aproveitam para tanto dos problemas econômicos que em maior ou menor grau chegam ao nosso subcontinente.

Não nos iludamos, entre fatores diversos para o ressurgimento da direita, em sua versão radicalizada e golpista, está o desgaste até certo ponto natural do ciclo progressista, as dificuldades econômicas e o apoio velado dos EUA cujo objetivo é quebrar a UNASUL e o Mercosul. Se conseguirem colocar uma cunha nos BRICS, farão também sem o menor disfarce.

Defender a democracia é hoje um ponto central e crucial para debelar o estratagema da guerra econômica, política e psicológica ministrada pelos meios oligopólicos. Estes mentirão como nunca antes fizeram desde 1985, em uníssono, para preservar os seus negócios cambaleantes. O interessante, ou trágico, é que a oposição partidária no Brasil é medíocre e o principal representante da mediocridade fracassada é o PSDB. Terceirizaram a política e correm o risco de serem engolfados pelos monstros que ajudaram a criar (monstros que não pretendem parar tão cedo de golpear a democracia).

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