Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook –
O jornalismo esportivo mudou radicalmente nos últimos anos. A visão de tratar o Esporte como entretenimento e com gracinhas começou com Tiago Leifert na Globo e se espalhou como praga. São muito raros os veículos que escaparam da peste da infantilização. Pode-se argumentar, pelo sucesso de aberrações como alguns programas da Fox, que é isso que dá audiência. Pode ser, mas isso não obrigaria o Jornalismo a renunciar a algumas de suas tarefas básicas.
A tragédia ou crime que matou as 10 quase crianças que buscavam sonhos e futuro no Flamengo serve de exemplo para a irresponsabilidade do tipo de cobertura esportiva que hoje é majoritária principalmente nas TVs.
Quem acompanha futebol sabe que a estrutura do Flamengo para receber seus garotos é superior a no mínimo uma centena de times brasileiros. Se a tragédia ocorreu no Ninho do Urubu, o que pensar da situação de insalubridade dos garotos que moram debaixo de arquibancadas espalhadas pelo Brasil?
Dá para imaginar as gambiarras de fiação e tudo o mais que representa risco? Algum veículo de comunicação teve interesse alguma vez de checar as condições em que vive a molecada? Se suas acomodações foram erguidas em construções com laudos de aprovação?
É provável que de ontem para hoje exista uma correria de clubes tentando remendar as espeluncas em que metem suas promessas de craques e dinheiro.
A última emissora que fazia jornalismo esportivo com esse tipo de preocupação era a ESPN dos tempos de Roberto Salim, Ovidio Mattos e Lúcio de Castro. Já tem anos. Enquanto isso, as gracinhas de quinta série são empurradas ao público infantilizado/imbecilizado.
Meninos são explorados por empresários e as famílias, geralmente muito pobres, aceitam todos os absurdos porque enxergam no pé de obra de uma criança a chance única de saírem de sua vida miserável e de humilhações. Mas isso não interessa ao jornalismo que vê Esporte só como entretenimento.
Afinal, o que importa é o show e a fortuna que movimenta.
A vida é detalhe.