Pobre Brasil. Qual é o idiota que se sente representado por um sujeito que vai a um programa de quinta na televisão e fica 40 minutos no ar destilando raiva, fazendo ameaças, vomitando mentiras, abraçando um burro – talvez aí tenha falado a mesma língua – e contando piadinhas homofóbicas e xenofóbicas. Dizem, inclusive, que esse é o comportamento normal dele no Palácio do Planalto, a “casa de vidro”, segundo os milicianos

Chega a dar vergonha. Vergonha não. Talvez pena, temperada com revolta, seja o sentimento mais adequado. O que estão fazendo impunemente em nome de uma pátria pária é espantoso. E destrói tudo aquilo que foi construído, e conquistado, ao longo dos anos. Estamos perdendo o presente e o futuro. Estamos perdendo a dignidade, o amor, a esperança. Quem, em sã consciência, cantaria hoje a plenos pulmões, ou mesmo baixinho – porque medonha –, aquela melodia chiclete que alardeava “eu…sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor…ô..ô…ô…”

A semana que passou veio coroar esse processo nefasto desencadeado por um débil mental alucinado e mal intencionado, razão de toda a miséria moral que nos abate Com a maior cara de pau, banhada a óleo de peroba, ele participou da cúpula do clima para despejar mentiras e pedir dinheiro, como se o governo dele fosse o mais preocupado do mundo com a destruição do meio-ambiente. Por que não falou do recorde de devastação na Amazônia, que registrou a maior taxa de desmatamento nos últimos 10 anos, perdendo em março uma área do tamanho de Goiânia? Por que prometeu dobrar os investimentos na fiscalização se está sucateando as instituições responsáveis por essa tarefa e, no dia seguinte, aprovaria um orçamento que cortava boa parte da verba destinada a isso?




Pobre Brasil. O orçamento que Bolsonaro sancionou revela dois traços dessa miséria. O primeiro é que o homem, de olho numa ameaçadora reeleição, vende até a alma para o legislativo. Mexeu em quase nada na montanha de dinheiro destinada às emendas parlamentares. O outro traço desnuda o que ele realmente considera prioritário. Dane-se a Educação, a Saúde, o Meio-Ambiente, a Ciência. O negócio é atender a cobiça dos parlamentares e dos militares que o cercam para fortalecer as Forças Armadas, a quem ameaçou recorrer, mais uma vez, para acabar com “essa covardia de toque de recolher em alguns Estados e municípios”. Como? Invadindo as casas?

Pobre Brasil. Qual é o idiota que se sente representado por um sujeito que vai a um programa de quinta na televisão e fica 40 minutos no ar destilando raiva, fazendo ameaças, vomitando mentiras, abraçando um burro – talvez aí tenha falado a mesma língua – e contando piadinhas homofóbicas e xenofóbicas. Dizem, inclusive, que esse é o comportamento normal dele no Palácio do Planalto, a “casa de vidro”, segundo os milicianos. Ele se esbalda de rir enquanto milhares de brasileiros continuam morrendo diariamente, vítimas da pandemia. Que tomem cloroquina, ivermectina… O boneco que ele botou no Ministério da Saúde tem diploma de doutor, mas se dispõe a incluir remédios comprovadamente ineficazes no protocolo de tratamento da Covid.

Pobre Brasil. A maior crise sanitária que atingiu o país já entrou em seu segundo ano e milhares de alunos estão sem aulas. Nem presenciais nem remotas – o mundo digital não chega aos nossos bolsões de pobreza. Um tempo perdido, um prejuízo incalculável. E o ministério, comandado por um pastor insignificante e invisível, perde quase R$ 4 bilhões no corte promovido pelo insano Bolsonaro. Em compensação, proclama como seu grande plano a adoção do homeschooling. Ou seja: acabar com as escolas e passar aos pais a função de professores. Nas redes sociais, houve quem protestasse contra uma decisão da Justiça que impediu uma aluna de cursar Engenharia na Escola Politécnica da USP por não ter o diploma escolar de Segundo Grau.

Pobre Brasil. Até mesmo entre seus fiéis assessores emergiu um clima de contrariedade à tesoura do capitão. O ministro astronauta de Ciência, Tecnologia, Inovação e algo mais reclamou que vai ficar sem dinheiro para desenvolver a vacina genuinamente nacional. E na véspera estava todo pimpão ao ouvir de Bolsonaro: “Marcão, vamos lá. Como é que tá nossa vacina brasileira? Essa é 100% brasileira, não é aquela mandrake de São Paulo não, né?”  E veja só, o advogado dos madeireiros e ministro sem ambiente foi bater na porta do Ministério da Economia para dizer que o corte de grana vai prejudicar o trabalho que um dia definiu como “passar a boiada de baciada….”

Pobre Brasil. Nenhum corte foi mais emblemático que aquele que atingiu em cheio o censo demográfico. Por lei, deveria ter sido realizado ano passado. A pandemia impediu. E foi transferido para este ano – o orçamento inicial de R$ 3,1 bilhões acabou reduzido a 53 milhões, o que, para os técnicos, não é suficiente nem para o planejamento do censo no ano que vem. Uma tragédia porque o programa, através da visita de pesquisadores do IBGE a mais de 70 milhões de domicílios em todos os 5.570 municípios, traça uma radiografia do Brasil – quem somos nós, quais são nossas carências, nossas necessidades. É instrumento fundamental para o planejamento das ações e investimentos do governo, qualquer que seja a área – saúde, educação, transporte, saneamento, moradia….

Mas quem pensa que Bolsonaro quer saber quem somos, o que queremos, o que precisamos? Ano que vem é um ano de eleições e quanto maior for a escuridão, melhor para ele manobrar o jogo eleitoreiro desfilando feitos falsos, estatísticas mentirosas. Ele é um tirano que coloca suas vontades acima de qualquer coisa, faz o que quer, como quer e para quem quer. E pensa que compra o povo contando piadinha vulgar e comendo pastel na feira. Falta a cervejinha, a pelada do fim de semana e muita vergonha na cara.

Para completar:

– A Justiça bateu o martelo. Considerou suspeita a conduta do ex-juiz Sergio Moro no processo que acabou impedindo a participação de Lula nas eleições de 2018. Resta saber se ele agiu sozinho ou a mando de alguém.

– A ministra Carmen Lúcia não tinha dado cinco dias para que o presidente da Câmara, Arthur Lira, explicasse que destino deu – ou dará – aos mais de 100 pedidos de impeachment de Bolsonaro protocolados na casa?

– A CPI da Pandemia começa, enfim, a trabalhar. E o general Pazuello será o boi de piranha do governo. Se não, por que o ex-secretário de comunicação da Presidência só agora revela que o Brasil não comprou 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, ano passado, por incompetência do Ministério da Saúde, inocentando o capitão?

–  Não nos esqueçamos, porém, que Bolsonaro, publicamente, assumiu não ter concordado com a compra das vacinas da Pfizer.

– E afinal, qual a relação dele com o miliciano Adriano da Nóbrega, o chefe do escritório do crime assassinado na Bahia?