Curioso.
O vazamento sobre a “delação” de Ricardo Pessoa, da UTC, um dos empreiteiros que Moro manteve preso por mais de sete meses, com objetivo explícito de torturá-lo, aconteceu horas depois do empresário entregar uma “planilha”, às autoridades, contendo supostas doações para vários políticos.
O vazamento se deu seletivamente para os veículos do golpe: Veja, Estadão, Folha e Globo.
A primeira reportagem no Estadão sobre o caso traz um parágrafo intrigante:
“A defesa de Pessoa informou que não vai comentar as informações porque a delação é sigilosa. Também informou que não confirma a autenticidade da planilha.”
Todas as novas informações, que explodiram na imprensa nesta sexta-feira, estão concentradas nesta misteriosa planilha, que deveria estar sob segredo de justiça, mas vazou imediatamente após ser divulgada pelo empreiteiro.
A defesa, repare bem, ainda não confirma a autenticidade do documento.
E mesmo que confirmasse, contudo. Repare só: é uma “planilha”.
Planilha?
É sério isso? Não há um comprovante de depósito? Uma fotografia, um vídeo, um áudio?
Querem derrubar a República, num país com 200 milhões de habitantes, sétima economia do mundo, por causa de uma planilha?
Ora, qualquer um pode fazer uma planilha, misturando fatos verdadeiros, falsos, doações legais e ilegais, ao gosto do freguês.
Eu poderia divulgar uma “planilha”, por exemplo, trazendo dados “explosivos” sobre elementos da oposição. O que isso prova?
Abaixo, uma “planilha” fictícia, que rabisquei agora:
A maneira como essa “planilha” vaza, para onde vaza, exatamente numa sexta-feira, apenas revela o seu objetivo político.
Outra coisa curiosa. A reportagem do Estadão citada removeu, em seguida, o parágrafo que eu menciono, o parágrafo em que a defesa de Pessoa enfatiza o sigilo de sua delação e não confirma a “autenticidade” da planilha.
Por sorte, como a reportagem foi reproduzida no site da revista Época,encontrei o parágrafo por lá.
Os robozinhos do Google também guardaram o parágrafo:
O caso Ricardo Pessoa é tratado com ansiedade especial pelos procuradores golpistas. Suas delações foram “vazadas” à imprensa antes mesmo do empreiteiro ter aceito oficialmente que estaria disposto a fazer a delação.
E agora tudo se concentra numa “planilha”. O Globo e todos os jornalões que compõe a rede golpista da imprensa nacional já falam em impeachment.
Ué, e o vídeo em que Youssef confirma a propina de US$ 120 mil dólares pagas mensalmente a Aécio Neves? Em oito anos, isso daria quase 3 milhões de dólares, ou 9 milhões de reais. E falamos de uma propina paga a 1 pessoa, não de uma campanha presidencial, que movimenta bilhões de reais.
A delação de Youssef sobre Aécio vale menos que uma “planilha”?
Trata-se de uma tremenda palhaçada golpista. A imprensa faz um jogo de verdade ou mentira de acordo com seus interesses. Não há nenhum compromisso com o fato, tratado como um ser desprezível, um elemento constrangedor.
Uma pena que a economia do Brasil, em momento delicado, ainda tenha de enfrentar esse tipo de mau caratismo midiático e judicial.