Por Yamê Reis, compartilhado de Projeto Colabora –
Revisão do modelo atual é fundamental para frear aumento da temperatura global aos níveis definidos pelo Acordo de Paris
Nas duas últimas décadas, a indústria da moda experimentou um crescimento sem precedentes. A consolidação do fast fashion como modelo de negócios hegemônico teve como consequência a duplicação da receita global do setor: a indústria emprega mais de 75 milhões de trabalhadores, na sua maioria mulheres, gerando 1 trilhão de euros anuais em receita. E apesar da pandemia de 2020 projeta-se um crescimento de até 7% até 2024. Mas esse crescimento exponencial trouxe também uma preocupação crescente com a sustentabilidade e as consequências ambientais provocadas pelo descarte do excesso de produtos e a fragmentação cada vez maior da cadeia produtiva.
Pesquisa recente publicada pela Global Fashion Agenda atesta que a indústria da moda produziu por volta de 2 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa em 2018, representando 4% do total de emissões globais naquele ano, o equivalente às emissões da França, Grã-Bretanha e Alemanha juntas. Desse total de emissões da moda, 70% vem das atividades industriais desde a produção da matéria-prima até a confecção. Os 30% restantes ficam distribuídos entre as operações do varejo, a vida útil do produto (lavagens) e o descarte. Portanto, se medidas extremas não forem tomadas, as taxas de emissões da indústria tendem a crescer em 2,7% até 2030.
O nível de mudanças necessárias para a reversão desse quadro demanda um forte engajamento de toda a cadeia produtiva. Marcas de moda e fornecedores precisam criar e assumir compromissos com políticas de redução energética e reciclagem no fim da vida útil dos produtos.
E após 2030 o desafio será ainda maior, pois, para limitar a temperatura ao aumento de até 1,5 graus definidos pelo Acordo de Paris, será essencial implementar modelos de negócios circulares e reduzir os de níveis de consumo, o que implica uma revisão total do modelo atual.
Uma boa iniciativa de colaboração para atingir essas metas de mudança foi a criação do Pacto da Moda em 2019 e que já conta com a adesão de 60 grandes marcas globais. Baseado nos princípios da Science Based Targets (SBT), uma instituição que define metas para a Ciência, o Pacto foca suas ações em 3 áreas essenciais:
– Zero emissões de GEE (gases de efeito estufa) até 2050;
– Restauração da biodiversidade e proteção das espécies e ecossistemas naturais;
– Proteção dos oceanos, por exemplo, removendo o uso de plásticos de uso único.
A colaboração entre a indústria e o varejo é fundamental para o alcance desses objetivos, direcionando todo o setor para as estratégias da economia circular de redução da extração de recursos naturais, apoio à inovação, rastreabilidade e transparência, e monitoramento de impacto.
Todos esses aspectos das mudanças necessárias para a regeneração da indústria da moda serão debatidos no Rio Ethical Fashion, o Fórum internacional de Moda Sustentável que fará sua segunda edição de 30 de outubro a 30 de novembro.
Problemas globais demandam soluções globais e muita colaboração. A moda brasileira, uma das mais expressivas da indústria têxtil global, estará pronta para assumir a sua parte na redução de emissões?