A morte horrível e previsível do PSDB

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista

O barraco de punhos de renda no velório do PSDB só surpreende quem nos últimos anos tirou longas temporadas de férias em Marte. Na verdade, tem mais de 10 anos que o partido tornou-se uma fraude e nada melhor que uma figura grotesca como Doria ser escalado como mestre de cerimônia do enterro.Voltemos algumas décadas.




O PSDB foi fundado por um grupo de políticos que não aceitava a ascensão de Orestes Quércia no MDB. Quércia, governador paulista que se fiava na mistura de populismo de direita com corrupção, não era aceito pela academia da USP e por políticos com tinturas levemente progressistas. Uma espécie de social-democracia aguada deu asas aos fundadores da legenda.

Para encurtar bastante a historieta: aos poucos, o PSDB virou, acima de tudo, o ancoradouro do antilulismo e antipetismo, cada vez mais à direita. Tinha votos sim, principalmente em SP, de uma classe média reacionária, e até em setores pobres. Acabou.

Por que?Os fregueses mais antigos do boteco milagrosamente talvez se lembrem de uma imagem que o gerente aqui enfadonhamente utiliza: quem votava no PSDB é aquele sujeito que temporariamente mora de aluguel enquanto não chega a casa própria, o verdadeiro sonho. De repente, veio Bolsonaro, e o casamento perfeito. E os votos foram alojados na casa própria.

Entre o genérico e o produto de marca, os consumidores ficaram com quem realmente expressa o que eles pensam. Não é por acaso que a atual — e já diminuta— bancada tucana na Câmara é cada vez mais de direita e fiel ao genocida em quase todas as votações importantes. É instinto de sobrevivência.

O que sobrou do antigo eleitorado é conservador ou reacionário. Quem quiser mandato no PSDB tem que dançar coladinho com a extrema-direita. Bolsonaro matou o PSDB, hoje um partido de Aécios e Joães Riquinhos presidido pela inexpressividade de Bruno Araújo.

O relevante para a análise política, no entanto, é o que revela a transferência do eleitorado do PSDB para Bolsonaro. Existe uma grande parcela da classe média brasileira, e até uma fatia de pobres, que é profundamente conservadora e reacionária mesmo.

Quem não compreender e trabalhar com essa constatação não enxergará o Brasil real.Somos sim, desgraçadamente, um dos países em que o reacionarismo tem mais entrada na sociedade.

Essa é uma das chaves mais importantes para se entender como será jogado o destino das eleições em outubro. Não será fácil superar o fascismo. Ele tem algum apoio em parcelas de pensamento medieval no Brasil. E não será com sectarismo esquerdista que a tarefa será cumprida.

Afinal, o Brasil não pode ter a mesma morte horrível do PSDB. Os tucanos foram engolidos pelo genocida. Conhecer o tamanho do inimigo é fundamental para salvar a Democracia, tarefa única, sim, em outubro.

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