Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre.
-Patrícia Rehder Galvão, PAGU – 1910-1962,
tida como a primeira mulher a ser presa, por razões políticas, no Brasil.
Outras 22 vezes ela seria detida por conta de sua militância corajosa, inclusive na França.
Por Alcir Santos, compartilhado da Revista Nova Família
Não tinha mais a pilastra que a sustentava. Aí chegamos aos novos tempos.
Os filhos são postos no mundo, mas quem os educa não são os pais. As escolas nunca foram centros de educação.
No máximo, no caso das religiosas, complementavam as regras e os princípios que vinham de casa. A função da escola é informar. Educar é função, intransferível, da família ou, em última análise da mulher.
Diante desse fato, as que não abriram mão do múnus de ser mães, educadoras dos filhos, tiveram que se desdobrar e se submeter a três e até quatro turnos de trabalho. Conseguiam -e conseguem- espaço e tempo para levar e apanhar filhos na
escola, acompanhá-los nas atividades escolares e, sobretudo, cuidar do desenvolvimento físico, social e moral. Em síntese, educá-los.
Grosso modo, poder-se- ia encontrar três situações. Nenhuma delas fácil:
a) as mulheres que querem ser mães e arcam com o ônus dessa decisão;
b) as que não querem ser mães e têm de suportar a pressão social de quem vive cobrando filhos dos outros;
c) as que são mães apenas para mostrar para a sociedade.
Estas simplesmente lavam as mãos e os filhos acabam educados pelas empregadas. Quando vão a algum lugar público, simplesmente ligam os aparelhinhos eletrônicos e deixam as crianças anestesiadas.
Desta opção podem resultar jovens mal educados, grosseiros, cheios de razão e totalmente despreparados para a vida. Alguns acabam, por falta de pais, adotados pelo traficante da esquina. Outro aspecto da questão é que a mulher passou a ter filhos cada vez mais tarde.
Primeiro é preciso ocupar o espaço no mercado de trabalho; depois se firmar dispendendo tempo com cursos de aperfeiçoamento, progressão na empresa, etc. Afinal, nada é fácil.
Somente em terceiro plano é que está a maternidade. Mas aí ela já entrou na casa dos quarenta, com a vida estabilizada, tempo de aproveitar o resultado de tanto esforço e dedicação. As tentações são muitas e tomar a decisão de engravidar, parir e criar um filho não é fácil. O tempo é outro. Maternidade já não é único apanágio da mulher. Sem dúvida uma questão complicada e que se agrava na medida em que muita gente ainda acredita que ter filhos é a forma de não acabar na solidão. Chegamos então ao grande número de mulheres sozinhas.
Aí, me parece, há um conjunto de fatores: primeiro, temos o fato de que existem mais mulheres que homens. Aqui uma coisa muito perversa, nascem mais homens que mulheres, mas eles morrem ainda muito jovens; segundo, as mulheres vivem, em média, seis anos mais que os homens, e terceiro, as atuais gerações estão ficando muito intolerantes.
Não transigem, não aceitam fazer concessões. Assim os casamentos duram pouco e surge outro fenômeno que são as famílias compostas por pessoas que trazem, de ambos os lados, verdadeiras tribos, filhos oriundos dos vários casamentos anteriores. Isto é
delicado.
Sabemos que a vida a dois, e até no campo profissional, depende de uma troca permanente de concessões. Se cada um não ceder um pouco as coisas não se ajustam. E como não se sustenta uma relação em que um manda e outro obedece, as relações não se firmam. Para terminar, outro fator, pouco observado, mas bem interessante.
Casamento, em sentido lato, tem como um dos seus alicerces a intimidade, a cumplicidade, fatores que surgem com o difícil exercício de viver juntos, dividir espaços e, sim, fazer e receber concessões. Assim as pessoas ficam com medo de se juntar a alguém de faixas etárias mais altas, especialmente quando vêm de outras relações. Pior ainda quando o casamento foi longevo.
O fato é que cada uma delas traz consigo uma enorme bagagem de manias e hábitos. Isto, embora possa não parecer, faz uma grande diferença.
Com vinte, trinta anos de idade, ainda é possível ceder; com cinquenta, sessenta, é muito mais difícil. Talvez por isso homens maduros que ficam sozinhos preferem mulheres bem mais jovens.
A teoria dominante é que estão buscando nelas a juventude perdida. Mas também é possível que busquem nas jovens evitar a
dificuldade de se ajustar a mulheres formadas, donas do seu nariz, também cheias de manias e hábitos.
Apenas para registrar o fator de ordem financeira. Com os salários caíram muito os homens já não conseguem sustentar famílias sozinhos.
Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade
Simone de Beauvoir
Hoje, quando converso com mulheres de oitenta e muitos que foram juízas, fico abismado com as histórias que contam do que passaram ao chegar nas suas comarcas. Imagine o interior da Bahia há sessenta anos?
A propósito, fiz um artigo “As Flores em Vida” onde presto uma homenagem às primeiras magistradas. Aqui uma informação curiosa que depõe contra a Bahia. A primeira mulher chegou no #TribunaldeJustiçadaBahia na segunda metade da década de oitenta.
Muito antes, no #Pará, já tinham ocupado cargos como a Presidência do Tribunal de Justiça e do Tribunal do Trabalho. Triste Bahia…
Realmente é difícil a convivência a dois quando se tem “bagagem” e quando se teve uma boa relação. E ainda tem o fato da passagem do tempo e de se acostumar e aprender a ser só.
Confesso que não programei, não pretendia e nem queria envelhecer , ou amadurecer, só . Sempre pensei em ter uma boa companhia para partilhar a parte boa da vida , já que agora tenho filhas crescidas e independentes e vida profissional bem corrida, mas já definida. Seria hora de abraço e ombro, pé com pé na hora de dormir o e carinho e aconchego que a cumplicidade trás. Mas o tempo vai passando e nada acontece.
O mesmo se dá com muitas das minhas amigas, profissionais capacitadas e independentes, que seguem sozinhas, até porque faltam opções. Temos um grande grupo de avulsas, que se misturam aos amigos casados ou com namorados e vamos
vivendo.
Outro ponto que venho percebendo em colocações de alguns poucos amigos e que eles estão se cansando da falta de maturidade e do ciúme das pessoas (mulheres na faixa de 35/45 anos) dizem que implicam por qualquer coisa e limitam a liberdade . Um
deles terminou um namoro de seis meses há 15 dias, por conta de desconfiança das ligações do celular dele e dos escândalos. E olha que ele já está com 63.
E ainda outro ponto, é a quantidade de gays assumidos. Diminuindo muito o número de homens que desejam estar com mulheres.
E ainda mais outro ponto, são os casados ou os que têm relacionamento firme e que não levam nem suas mulheres, nem as tantas outras a sério. É uma pena que existam tantos “galinha” por ai que poderiam estar vivendo uma relação madura, rica, leve e
leal com quem muito já viveu e aprendeu e tem muito a dar.
E ainda restou um ponto. Os rapazes mais novinhos estão preferindo as mulheres na faixa de trinta e tantos, quarenta. Segundo ela, ficam mais seguros e confiantes.
A recíproca é verdadeira. Elas é que estão escolhendo os mais jovens. E o que sobra para as de cinquenta/sessenta?
Na verdade, as mulheres evoluíram muito , conquistaram muito e também perderam muito da paciência. Se não for assim, aonde eles se escondem? Grande mistério!
Me chamou a atenção essa questão gay. Cada vez ouço mais esse tipo de comentário. Uma amiga, já falecida, advogada e psicóloga, que trabalhou num desses hospitais públicos e tinha bom relacionamento com o pessoal da área, médicos e enfermeiros,
me falou vez que estava impressionada com o número de casamentos de conveniência, feito entre colegas, com o objetivo de dar cobertura a sexualidade do outro perante a família, os amigos e ao próprio meio.
Nesse passo acaba prevalecendo a teoria de #ShereHite no seu mais que polêmico livro da No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira mulher criada por Deus junto com Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por
causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, passando depois a ser descrita como um dem
Terminar com a letra de mulher de trinta na parte que diz “amanhã sempre vem…..” ou pressentimento.
Alcir Santos é aposentado e leitor compulsivo. Coisa ele diz: “ex um bocado de coisa”, de office-boy, bancário, professor de História e Direito Civil e Prática Forente a juiz. Colunista da Revista Nova Família