Por Arcírio Gouvêa Neto, jornalista
Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre (Plinio Marcos, dramaturgo e ator)
“A música, como a conhecíamos antes, acabou”. Essa frase inquietante do vocalista do IRA, Marcos Valadão Rodolfo (o Nasi), também radialista, produtor e apresentador de TV, define o cenário devastador pelo qual estão passando compositores e músicos consagrados. Ele vai além: “Quem vai querer ser compositor hoje? Quem vai querer tocar um instrumento hoje? Pra quê? Hoje as músicas são feitas por produtores que fazem isso em escala industrial, na frente de um computador, sem qualquer comprometimento com a arte.”
Guilherme Arantes, Ivan Lins, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e dezenas de outros tantos recentemente se manifestaram contra a política nefasta das plataformas de streaming, que pagam irrisórios centavos por cada vez que a música é acessada, trazendo dificuldades financeiras imensas para quem vive da música. Até monstros sagrados como Jimmy Page e Paul McCartney também botaram a boca no trombone. Sendo que Paul chegou a publicar um manifesto contra essa prática.
O cantor e compositor Rui de Carvalho explica como a classe artística está se sentindo: “Que tristeza, gente, o que está acontecendo com o nosso querido Ivan Lins, é tudo muito cruel. Imaginem nós, que somos artistas que não temos fama, como padecemos viver com esse novo tipo de esquema desumano, que não tem a menor consideração pelos nossos direitos autorais? Eu também nunca recebi nada de YouTube, Spotify e lojas virtuais espalhadas pelo mundo onde estão os meus CDs à venda. E o pior é que nos sentimos perdidos, sem saber como fazer para reverter essa situação”.
Lembro-me de uma entrevista premonitória e histórica do Lobão, no programa do Jô Soares, isso há uns 20 anos, em que ele descrevia com exatidão minuciosa o que está acontecendo agora. Acho que chegou a hora do governo federal intervir nessa questão, um país sem cultura é um país sem memória, é um país doente.
Obs.: Título e menção da frase de Plinio Marcos são do Bem Blogado