Álbum de Lucina traz 13 canções inéditas de seu trabalho com Luhli. Foram escolhidas estas entre as mais de mil composições que comungam.
Aquiles Rique Reis, compartilhado de Jornal GGN
Lucina – Nave em Movimento
(a música artesanal de Luhli e Lucina)
por Aquiles Rique Reis
Com treze canções inéditas da dupla, selecionadas dentre mais de mil composições (1000! Isso mesmo), eis o novo álbum de Lucina. Tendo ela mesma a cantar e a tocar violão ovation, somada a Murilo O’Reilly (arranjo de percussão e percussão eletrônica) e Peri Pane (cello), a tampa abre com “É Tudo Um” (Lucina e Luhli): a percussão inicia. A voz soa seca. Ad libtum, Lucina canta o que lhe vem do fundo d’alma. O cello chega. Amparado pela percussão, um vocalize em terças conduz ao final.
Em “Mãe Terra” (Luhli e Lucina), Lucina canta e toca tambores, enquanto Décio Gioielli toca flauta africana e percussão. Um tambor ressoa na intro. O suingue vem com a voz dobrada em terças. A percussão reflete a sonoridade que vem de cantos ancestrais. A flauta africana convoca a tribo para defender o chão que é provedor de alimento e existência.
Lucina (violão e voz), Bruno Aguilar (baixo acústico), Décio Gioielli (kalimba) e Julia Borges (participação especial) estão em “Na Primeira Brisa”* (Lucina e Luhli): o violão antecede a voz de Lucina, que canta a canção amorosa. Vocalises de Julia Borges dão à música o tom de uma saudade. Os versos têm sons de lágrimas que a kalimba cristaliza. E o pássaro sente a brisa em suas asas e avoa para o passado. Apesar de jururu, vai feliz… sim, feliz!
“9.16”, outra parceria de Lucina e Luhli, tem Lucina (violão e voz), Otávio Ortega (teclado), Marcelo Dworecki (baixo), Curumin Tanaca (bateria), Maurício Cajueiro (guitarra) e Zélia Duncan (participação especial). O violão toca a intro. A guitarra improvisa. Lucina canta. O baixo e a batera conduzem a canção com a doce certeza de que logo receberão Zélia para recitar os versos. E a incerteza, prima-irmã do desconhecido, dá as caras: bem-aventurada a dúvida que nos permite vislumbrar uma liberdade até então subvivida. (Sim, uma palavra que não existe, mas que deveria existir. E aqui vem à luz.)
“Misturada Cabana”** (Luhli, Lucina e Joãozinho Gomes) tem Lucina (vozes e djambe), Jorge Mathias (baixo), Jaime Alem (violão) e Décio Gioielli (percussão). O violão traz o balanço ao proscênio. O poeta Joãozinho Gomes agrega beleza à poética de Luhli, e Lucina a conduz a um pódio digno de um álbum de estilo imprevisível, mas de conteúdo definitivo. Assumindo o compromisso de serem contemporâneas de tudo, as palavras desapegam-se do convencional e dão-se ao êxtase.
A tampa fecha com “Na Noite de Um Amanhã” (Lucina, Luhli e Mário Avellar), que traz Lucina (violão e voz), Otávio Ortega (piano), Marcelo Dworecki (violão de aço), Peri Pane (cello), Patricia Ferraz (arranjo) e Poeta ArrudA (participação especial). Com o afeto no ar, embalado pelo cello e pelo violão, ArrudA recita versos consistentes. É isso!
E digo: qualquer amor é uno, divisível e bonito, bem como inconteste é a dor que permite sobreviver à sua perda.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
*https://youtu.be/XIhJcL1VuLw **https://youtu.be/6jukgxr6FM4