Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Começa o ano que terá, entre pontos relevantes, as eleições municipais. Se é falso que o pleito nas províncias determina o resultado da disputa presidencial de dois anos depois, é verdade que a escolha de prefeitos e vereadores são determinantes para o cotidiano básico dos cidadãos. E entre as grandes capitais é no Rio de Janeiro que parece caminhar com mais celeridade um acordo, até inédito, entre as esquerdas.
É evidente que o deputado federal Marcelo Freixo é o nome do campo progressista com maiores possibilidades de triunfo em outubro de 2020.
Alguns, entre os quais me incluo, têm restrições ao modo de Freixo atuar e mesmo a algumas, ou muitas, de suas opções. Freixo não é, portanto, o último biscoito (para delimitar o campo do carioquês) do pacote. Mas carrega consigo várias qualidades para que ninguém se envergonhe de fazer campanha para ele.
Para começar, é um nome limpo, sem contenciosos de corrupção. É também, no campo das esquerdas, talvez o que mais acompanhe e tenha uma visão abrangente na esfera da violência do Rio de Janeiro quase que dominado por milicianos.
Sua visão de Segurança Pública vai bem além de diagnósticos simplistas que, convenhamos, marca a participação das esquerdas nessa discussão pantanosa.
Se fosse preciso mais alguma coisa além de potencial eleitoral já revelado, abriu a chapa para participação de PT e PC do B. Parece pouco, mas quem conhece um tiquinho do PSOL e suas várias correntes sabe que o sonho de parte delas é simplesmente aniquilar o PT, jamais conviver com ele.
O PT não tem nenhum nome forte para a eleição. Já não tinha em 2016 e embarcou no naufrágio previsível da candidatura Jandira Feghali (3% no primeiro turno). Dividir as esquerdas novamente seria um equívoco dobrado.
Aliás, é bom lembrar a leal e dedicada participação do PSOL na campanha Lula Livre. Não houve ato relevante em que a direção psolista não estivesse lá, na luta pela liberdade do ex-presidente da República.
Em termos pragmáticos, uma eventual eleição de Freixo será também o até agora não realizado batismo do PSOL na fase adulta. Administrar o Rio caótico exigirá o amadurecimento do partido. A recusa à convivência entre caneta e vida responsável traria simplesmente o caos na cidade e a ingovernabilidade.
Resumindo grosseiramente, está na hora de o PSOL ver os limites quando deixa o palanque das platitudes. Ainda na hipotética vitória de Freixo, alguém duvida que sempre equivocados como o vereador Babá causarão estragos internos e cobrarão o impossível de ser feito? Para crescer, o PSOl vai ter que tomar um chá de realidade e, talvez como fez o PT lá atrás, cortar na carne.
Somando tudo, é difícil o PT se opor a uma aliança com Freixo. A não ser que queira reincidir no risco do isolamento e se submeter novamente a um vexame eleitoral e eventual acusação de ter dividido as esquerdas em disputa tão central na cidade dominada por corporação policial corrupta associada a milicianos bolsonaristas.
Por outro lado, a cúpula do PSOL tem que aceitar também a diversidade partidária. Se é para fazer uma aliança, é preciso garantir que petistas não sejam alvos preferenciais de alguns psolistas, como já é uma triste tradição.
Coligações majoritárias sérias exigem programa extraído em conjunto e atuação solidária na campanha. O Rio de Janeiro despedaçado hoje merece que e direções e militâncias de diferentes legendas se unam de fato. O inimigo é perigoso e lastreado em crimes e no efeito devastador do medo. Que seja feita logo a aliança entre PSOL, PT e, se possível PC do B. O Rio precisa e merece!
