Por Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo –
Não poderia ser melhor a análise do excelente jornalista americano Glenn Greenwald sobre a imprensa brasileira.
É chocantemente desonesta.
Ela não faz jornalismo, notou ele na entrevista com Lula. Ela faz propaganda contra o governo.
Quer dizer: seus donos fazem, eles que são um pequeno grupo entre as famílias mais ricas do país.
Quem vive no Brasil pode não ter noção de quanto é desonesta a mídia. Você pode se acostumar com um bode na sala, se conviver muito tempo com ele.
Mas para quem tem outras referências, como é o caso de Greenwald, é uma coisa realmente espantosa.
Trabalhei muitos anos na Abril, e alguns na Globo. Só fui notar com clareza o caráter maligno de ambas ao viver em Londres. A distância me permitiu ver o horror indecente que marca as companhias jornalísticas brasileiras.
Na Inglaterra, você não vai encontrar nenhum jornal ou revista que faça nada parecido com a imprensa brasileira. Nos Estados Unidos, idem. Em nenhuma sociedade avançada é tolerada uma conduta criminosa como a da mídia do Brasil.
Numa entrevista ao DCM, um juiz sueco disse que para ele era simplesmente impossível pensar que um político na condição de Eduardo Cunha poderia estar em outro lugar que não fosse atrás das grades.
Da mesma forma, é impensável você imaginar em países mais civilizados uma imprensa como a brasileira.
Quem primeiro abandonou o jornalismo para se dedicar à propaganda disfarçada foi a Veja.
Ela fracassou. Está quebrada e perdeu por inteiro o respeito e a credibilidade. Ninguém mais a leva a sério, tantos os disparates que cometeu. A Veja é um morto que caminha.
Mesmo assim, ela acabou sendo seguida pelo resto da mídia. As demais revistas semanais, Época e IstoÉ, viraram subVejas. Toda semana elas se esforçam por dar furos sensacionais que mudarão a República, e que terminam invariavelmente no merecido esquecimento.
A adesão mais espetacular ao antijornalismo veio do Jornal Nacional. O JN é hoje uma Veja eletrônica. Aumenta ou inventa denúncias contra Lula e o governo, esconde qualquer coisa positiva e por aí vai: perdeu completamente o pudor.
O Jornal Nacional é tão aloprado, editorialmente, quanto a Veja.
Me surpreende que os donos não percebam este movimento de autodestruição. Mas não seria exatamente uma novidade. Na Abril, presenciei a derrocada editorial da Veja, e em várias conversas de alerta que tive com Roberto Civita percebi que ele não notava o fogo que grassava na imagem e na credibilidade da revista.
A propaganda mais sutil é a da Folha. Ela abriga uma pequena cota de progressistas para fingir pluralidade, mas o espaço inteiro fora das colunas é dedicado a bater, bater e bater em qualquer coisa parecida com esquerda.
O que Greenwald provavelmente não sabe é que essa mídia abjeta vive do dinheiro público. Anúncios, financiamentos de bancos estatais, compras de livros e assinaturas: são numerosas as formas como o dinheiro do contribuinte vai parar nas companhias jornalísticas.
Ele também não deve saber que nos anos do PT no poder os recursos públicos continuaram a jorrar para as famílias Marinho, Civita e Frias.
Se soubesse, ele teria incluído na entrevista a Lula esta pergunta: “Mas como o senhor continuou a dar tanto dinheiro para esta mídia que conspira abertamente contra a democracia?”