Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook –
A pesquisa do DataFolha que mede a imagem dos políticos não traz, em si, nenhuma novidade. Moro, Lula e Bolsonaro são os únicos que têm cacife eleitoral, como candidatos ou apoiadores. Ciro, mesmo agora se situando ao centro, padece da maldição dos 11% ou 12%, dali não sai nem com guindaste. Só se viabiliza se aglutinar a tal direita civilizada, o que é muito improvável. E as esquerdas?
É cada vez mais claro que não há chance de nenhum candidato de qualquer esquerda sair do gueto eleitoral se não tiver o aval de Lula.
O ex-presidente, de seu lado, dá todos os sinais que, em não podendo ser candidato em 2022, tende a apoiar mais uma vez Fernando Haddad. Aqui entra um dado que muita gente que não conhece PT e esquerdas partidárias não sabe: há muito sem voto no PT que detesta Haddad. E insiste numa arapuca para tirar o ex-prefeito paulistano da jogada presidencial.
Resumindo, querem forçar a candidatura municipal de Haddad em SP. Sabem que nenhum candidato de qualquer esquerda têm chance de vencer em outubro em SP. Haddad perde e, portanto, fica sem credibilidade para 2022.
A ideia malandra também encanta sem-votos de outras legendas das esquerdas.
A questão do veto a Haddad, porém, não é pessoal. É puramente política. O que se quer é combater a postura “conciliadora” de Lula. Sem coragem para bater de frente com quem tem de fato a liderança popular, tentam minar Haddad que, no fundo, representa as ideias de Lula, incluindo as que foram aplicadas em seus dois governos.
Existe, até no PSOL, quem se dedica prioritariamente a combater Haddad. No fundo, também sabem que Haddad é Lula. O que a esquerda mezzo stalinista do PT gostaria é que Lula lançasse, sempre na hipótese de ter sua candidatura barrada no tapetão, alguém com postura “mais combativa”. Sabe aquela história de perder com a dignidade do gueto, com seus 15% de votos? É isso que está atrás da tentativa de barrar Haddad desde já.
Existem setores influentes do PT e de outras esquerdas que vivem parados nas décadas de 60 e 70. Acreditam que a sempre fundamental defesa do socialismo é prioridade presente hoje na classe trabalhadora. Não aprenderam nem com a Argentina. São cínicos ao falar de “vitória” de uma esquerda pretensamente pura lá, quando sabem muito bem que Alberto Fernandez só ganhou porque não embarcou na radicalização e vai tentar fazer um governo de centro-esquerda, igual, em muitos aspectos, aos de Lula aqui.
A turma da ultra argentina teve 3% na eleição. Essa é a real.
Não existe hoje nenhum país do mundo em que uma alternativa claramente classista tenha alguma chance de obter vitória eleitoral. Na cabeça anos 60 de algumas esquerdas brasileiras, o fenômeno talvez aconteça aqui.
Talvez prefiram esperar uma Revolução que não vem e apostar, como o PSOL fez no vexame do bom Boulos, em plantar para um futuro que, sabem, não dará frutos.
O problema é que a miséria brasileira, principalmente após a política econômica de eliminação de direitos via Guedes, não pode esperar o tempo dos sonhadores á beira da demência.
Portanto, caras e caros, quando ler ou ouvir uma cacetada em Haddad pode ter certeza que ali está um representante dos atrasados que adoram a opção de perder com 5% de votos a tentar uma saída que viabilize o fim de um governo espoliador.
O sujeito oculto da paulada é Lula, desde sempre um conciliador que sabe da urgência dos pobres. Lula, para desespero dos que não têm coragem de enfrentá-lo diretamente pela miséria de votos no bornal, não é bobo. Não vai cair na pregação dos eternos perdedores.