A Petrobras acabou com investimentos em pesquisa, mas não é tema para a mídia

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Por Luis Nassif, compartilhado do Jornal GGN – 

Aqui no Brasil, tudo termina em negócios. Cria-se um bordão simplório – privatização selvagem para todos os setores, sem nenhum discernimento sobre a lógica das empresas privadas e públicas. Abole-se qualquer análise mais sofisticada, inclusive, sobre a alavanca do setor público até em setores desinteressantes para o setor privado.

A Petrobras tem custo externo de produção – representado pela importação de derivados – e custos internos – representado pela sua própria prospecção. O interno é muito menor. Um mix de ambos os custos permitiria baixar os preços dos combustíveis. É ponto essencial para amenizar o custo de vida dos cidadãos e a competitividade das empresas. Este seria o papel de uma empresa pública estratégica.

Quando as as primeiras propostas foram levantadas, a mídia corporativa veio em peso supostamente em defesa da Petrobras. Ou seja, a defesa do interesse particular contra o interesse coletivo. O interesse particular seria da Petrobras? Longe disso.




Alguns idiotas da objetividade chegaram a alegar que a Petrobras era do povo brasileiro. Por isso, não poderia ser prejudicada por “políticas populistas”. Ou seja, o povo brasileiro consumidor pagará mais pelo combustível, pelo gás de cozinha para não prejudicar o povo brasileiro investidor, e o americano, e internacional, acionistas da Petrobras.

Fica claro que o interesse particular defendido pela mídia é exclusivamente o dos investidores da Petrobras – contra os interesses maiores do país.

Contrariando toda a lógica das petrolíferas de países produtores, a Petrobras passou a vender subsidiárias essenciais, com aprovação do Supremo Tribunal Federal e apoio incondicional da mídia.

Aplausos gerais, mesmo provocando um enorme enfraquecimento na musculatura econômica da empresa. Para justificar essa depenada, o jornalismo econômico chegou a alegar que a Petrobras estava quebrada, no mesmo momento em que a empresa colocava bônus perpétuo no mercado de Nova York, com demanda várias vezes superior à oferta. Obviamente escondeu-se o sucesso da colocação de bônus para não comprometer os interesses dos acionistas da Petrobras.

A maior parte do desinvestimento reverteu apenas em aumento dos dividendos dos acionistas.

Agora se sabe que a Petrobras cortou o financiamento às pesquisas sobre nanotecnologia da Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisa relevante em um dos temas do momento. Inclusive, relevante para a própria Petrobras. Não apenas isso. Provavelmente desmontou todo o sistema de apoio à pesquisa, que, em determinado período, ajudou a impulsionar os avanços tecnológicos em muitos setores, especialmente para a própria Petrobras.

Ninguém reclamou.

Ou seja, esses cortes representaram perdas para a Petrobras, na medida em que comprometem todo o desenvolvimento tecnológico da empresa. Saca-se contra o futuro para aumentar os dividendos dos acionistas.

Dá para entender o preço do subdesenvolvimento?

Nas disputas em torno das políticas públicas, há o conflito permanente entre interesses privados e interesses nacionais. Faz parte de todas as democracias. Mede-se a modernização de uma sociedade pela maior ou menor capacidade de agentes defendendo os interesses gerais, em torno de um projeto nacional.

Sempre foi assim. Surge um setor novo. Por novo, não dispõe de influência política e tende a ser destruído pelo velho. Qual a alavanca de modernização? Instituições, setores com visão de projeto nacional, ajudando na consolidação do novo.

Desmonta-se a legislação trabalhista. Aumenta-se a informalidade na economia. Todas as discussões são sobre os ganhos individuais de cada empresa. Nenhuma discussão sobre os efeitos sistêmicos – que afetam todas as empresas – como redução do mercado de consumo, pela incapacidade do trabalhador temporário contrair financiamento ou mesmo consumir, pela insegurança em relação ao futuro.

É por isso que, mesmo em países profundamente capitalistas, há a discussão apurada sobre o desenho de setores estratégicos, clareza sobre o papel do agente público e agente privado.

Aqui no Brasil, tudo termina em negócios. Cria-se um bordão simplório – privatização selvagem para todos os setores, sem nenhum discernimento sobre a lógica das empresas privadas e públicas. Abole-se qualquer análise mais sofisticada, inclusive, sobre a alavanca do setor público até em setores desinteressantes para o setor privado. Proíbe-se a Eletrobras de investir. Obviamente seu balanço melhora, melhoram os dividendos, em detrimento dos interesses mais gerais da economia. E o executivo autor da façanha é celebrado como grande gestor.

Em relação às críticas, basta enquadrá-las como prática corporativista para jogar para debaixo do tapete as discussões essenciais sobre seu papel.

Dá para entender como, com alguns períodos de exceção, o país perdeu todas as janelas de oportunidade abertas pela história. Não há diferença entre o Brasil atual e a República Velha, mesmo abstraindo Bolsonaro.

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