A plateia morre no fim do filme

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Por Washington Luiz Araújo, jornalista – 

Adoro sinopses de filmes. São elas, em grande parte das vezes, que me levam a assisti-los, embora algumas não retratem bem o roteiro, pois muitas vezes a sinopse é mais brilhante do que a própria produção, e por outro lado, com certa frequência,  fica aquém do  filme. Pensei numa sinopse que caberia direitinho em acontecimentos recentes da nossa hoje movimentada e golpeada vida política.




Policial experiente tem na vizinhança um “serial killer” em plena atividade. O“tira” tem todas as provas do envolvimento do vizinho nas mortes, mas sabe que esse tem um inimigo em comum. Logo, espera que o criminoso liquide o desafeto para depois prendê-lo.

Esse  argumento lembra algo a você, amigo leitor?  Vou ajudá-lo,  sendo o chato que conta o fim  da fita: o magistrado do Supremo Tribunal Federal Teori Zavaski sentou-se sobre o  caso Eduardo Cunha durante seis meses e só resolveu propor sua deposição da presidência da Câmara depois que o deputado  moveu mundos e fundos para que a presidenta  Dilma Rousseff fosse julgada pelos “insuspeitos” colegas de trabalho.

São obscuros os propósitos dos roteiristas que estão escrevendo esse filme de terror nos últimos dois anos e meio. Um irmão falecido, o “Perú”, simplificava desta forma a questão sempre que  eu reclamava de alguma falha de roteiro num filme que estávamos assistindo:  “É para facilitar a vida do diretor”.

O atual  roteiro da política brasileira, contaminada pelas intenções de uma parte do judiciário e da  mídia  tem muitas falhas, mas parece que o diretor (pode rimar com Janot) está gostando. Sabemos, porém,  que não haverá final feliz. Pelo menos para nós, que durante 13 anos vimos o país melhorar para todos, principalmente para as classes menos favorecidas.

Podem até abater  um bandido ali, outro acolá, mas estão de olho, na verdade, é no poder. No poder da grana e dane-se aqueles que estavam recebendo uns  pouquinhos desse dinheiro. Os golpistas querem tudo.

Dia após dia vamos acompanhando o desenrolar desse  filme.  De vez em quando vibramos com alguma cena, mas, na maioria das vezes, nos esquivamos  para que os tiros não nos atinjam.  Contudo,  já estão nos alvejando. Com os bandidos no poder (golpistas que sempre estiveram na oposição e traidores que até ontem estavam ao lado do governo atual), quem sofrerá mais será a  plateia, que, até o fim de 2002 –  perdoem o trocadilho – estava  desassistida. Para ela, não havia sequer sinopse.

Não  se iludam quanto àqueles que posam de mocinhos, de xerifes e de juízes. Estão todos mancomunados. O filme está cada vez mais agitado, mas a pergunta que fica é: estarei vivo para acompanhá-lo até o fim?  A resposta é: só por um milagre cinematográfico. Coisa muito acima da capacidade até mesmo de Welles, Truffaut e Fellini.

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