Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Li “A Professora e o Nobel Gabriel García Marquez”. O livro de Beatriz Parga conta a história de Rosa Fergusson, primeira professora do grande escritor. No momento em que se comete tanta atrocidade contra professoras e professores no Brasil, mirando o desmonte da educação para pobres, o livro é um lavar de alma do começo ao fim.
No início da década de 30 do século 20, cidade de Aracataca, Caribe colombiano, a professora Rosa, aos 22 anos, foi todo um deslumbramento para Gabito, aos sete anos de idade: “Quem me ensinou a ler era uma professora muito bonita, muito graciosa, muito inteligente, que me convenceu do prazer de ir à escola somente para vê-la”.
Já Rosa Fergusson assim falou sobre o seu célebre aluno para a entrevista que originou o livro: “Quando o Gabito ler isso vai se lembrar, quem sabe até com nostalgia, daquela fase feliz da sua vida, sua (escola) Montessori, onde sua professora o ensinava com tanto esmero e onde aprendeu e se destacou como o melhor aluno”.
Certa vez, Rosa ouviu de uma desencantada mãe: “Professora, não trabalhe tanto; você se esforça demais. Aqui as crianças quase nem precisam de estudo. Não há muita coisa que este lugar lhe pode oferecer. Lembre-se que essas crianças nunca serão doutores”. Rosa respondeu: “Meus alunos podem conseguir na vida o que eles pretenderem ser. Da minha sala de aula não poderá sair somente doutores, senão o melhor, até um prêmio Nobel”.
O pensamento e as ações de Rosa iam neste sentido: “Como professora, posso significar uma diferença na vida dessas crianças. É uma realidade que este povo humilde esteja longe da civilização, e que os pais dos meus alunos não tenham educação universitária, mas eu me comprometo a trabalhar para que tenham uma educação igual à das crianças das melhores escolas dos países mais adiantados”.
E assim Rosa resumia seu jeito de ser professora: “Eu sou como o vento e minhas crianças, uma pipa. Se o vento soprar com força, a pipa voará mais alto”.
Quase meio século depois das primeiras aulas, Rosa Fergusson, que também nasceu em Aracataca, foi assistir a uma peça de teatro escrita pelo seu antigo aluno, “Os Funerais da Mamãe Grande”. Lá se encontrou com o escritor, tendo surgido o seguinte diálogo:
– O que a traz aqui? – perguntou Gabriel.
– Vim ver sua obra – respondeu Rosa.
– Mas esta obra não serve – brincou o aluno.
– Você sabe que isso não é verdade e que por algum motivo triunfou como escritor – rebateu com carinho a professora
Todos os meus triunfos são seus – com ênfase, respondeu o Nobel de Literatura.
Não é informado se Gabriel García Marquez chegou a ler o livro, pois ele faleceu no mesmo ano que a obra foi lançada, 2014. O que se sabe é que o Nobel de Literatura pediu à Beatriz Parga que entrevistasse a sua primeira professora. A entrevista certamente foi lida pelo escritor, pois foi realizada em 1982, poucos meses antes deste ser agraciado com o Nobel de Literatura. Rosa Fergusson morreu em 2005, em Medelín, aos 96 anos.
Há algum tempo, perguntei a Chico Buarque sobre a professora de sua vida, numa entrevista para o sindicato de professoras e professores em que trabalho, o Sinpro-Rio. Chico respondeu que a professora de sua vida foi Olga Milhomens Costa, no que se chamava antigamente de curso primário. “Foi ela quem me despertou para a literatura, para as palavras”, afirmou o cantor, compositor e escritor.
Voltando ao escritor colombiano: as primeiras palavras de Gabriel García Marquez, ao receber o Nobel de Literatura, em Estocolmo, foram: “Dedico este prêmio à minha primeira professora, que me ensinou a escrever e a amar a literatura”.
Mais do que nunca precisamos ressaltar o valor das professoras e professores de nossas vidas. Hoje, entendo que nossa trajetória tem a marca crucial deste reconhecimento.
Vamos seguir os exemplos de Gabriel García Marquez e de Chico Buarque, entre tantos outros. E você, quem foi a professora ou professor de sua vida?