A promoção da ignorância é a estratégia política da extrema-direita

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Por Luis Felipe Miguel, compartilhado de Jornal GGN – 

No Brasil, quem se tornou o instrumento da campanha em favor da ignorância foi o pretenso movimento Escola Sem Partido.

Cada vez mais fica claro que a promoção da ignorância é absolutamente central na estratégia política da extrema-direita. A gente costuma dizer que eles tentam vetar o pensamento crítico, mas, como estamos vendo nesses tempos que correm, até o domínio da lógica elementar tem que ser banido.

No Brasil, quem se tornou o instrumento da campanha em favor da ignorância foi o pretenso movimento Escola Sem Partido. Para ele convergiram fundamentalistas de mercado (que querem vetar percepções críticas sobre o mundo social e suas desigualdades), nostálgicos da ditadura (que querer censurar o estudo da História) e fanáticos religiosos (que querem proibir discussões sobre gênero e, se der, até a seleção natural e o heliocentrismo).




Na busca de uma “base teórica” para seu ataque à educação, o Escola Sem Partido chegou ao livro, publicado em edição caseira, de um professor português aposentado, radicado no interior do Paraná. A obra se chama Professor não é educador e sua “tese” já foi endossada, em público, por aquela criatura que hoje dirige o MEC: o professor não educa, é um mero instrutor. Quem educa é a família (e a igreja).

Assim, na escola são transmitidas “informações”, vistas como objetivas. A família e a igreja transmitem valores. É tão primário que mal merece refutação – a epistemologia simplória e redutora, o desprezo pela autonomia dos educandos ao transformá-los em meros reprodutores dos valores familiares, a negligência do papel de socialização para o respeito à diferença que a escola deve cumprir.
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O livro é cheio de exemplos práticos de como o professor deve reagir quando surgirem temas delicados em sala de aula. Como regra geral, o professor deve verificar se é possível dar ao tema um tratamento meramente “instrutivo”, isto é, responder às questões apenas com informações objetivas. Caso, ao contrário, o tema seja eminentemente “educativo”, isto é, envolva valores, o professor deve impedir que a discussão prossiga.

Vou citar apenas um dos exemplos, para mostrar como o Escola Sem Partido compreende o que seria uma “informação objetiva”. Um aluno pergunta qual é a relação entre machismo e violência contra a mulher. O professor então informa: não há nenhuma relação. E sustenta a resposta enumerando “considerandos”. Diz, por exemplo, que as agressões são fruto de “distúrbios emocionais” ou do abuso do álcool, portanto o machismo nada tem a ver.

O melhor “considerando” é o último. Cito na íntegra: “O comportamento que decorre do machismo é a proteção e não a agressão. Quem agride o mais fraco é covarde. E machismo não se confunde com covardia. Proteger a mulher pode ser machismo; agredir a mulher pode ser covardia – mas machismo não é”.

Isso, para o Escola Sem Partido, é a informação “objetiva”, indiscutível, isenta de valores.

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