A quadrilha balança. Vai cair?

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

Já sabemos, principalmente nos últimos quatro anos, que definitivamente o Brasil não é nem para profissionais. Mas, cá entre todos, essa quadrilha fascista instalada no Palácio do Planalto supera qualquer imaginação muito fértil de um roteirista bom. A cada dia, um novo episódio de banditismo temperado no estilo chanchada.




A última, então, lembrou um pouco até o saudoso Mazzaropi, um caipira em sua versão mais inocente. O enredo absurdo reuniu um advogado desconhecido até a aproximação com Bolsonaro e que, num portentoso tiro no pé da gangue, abrigou em sua casa Fabricio Queiroz, tesoureiro do clã miliciano e homem potencialmente bomba para desnudar as centenas de falcatruas que marcam a vida desonrosa do atual presidente da República.

Na mesma semana, o fascista falastrão que era ministro da Educação foge com as calças na mão para os Estados Unidos, diante da possibilidade de ser preso. Fuga que contou com a cobertura do governo e provavelmente uso indevido de passaporte diplomático.

A coisa é tão surreal e vergonhosa que permite a pergunta: essa turma da sarjeta moral e institucional vai cair agora, não? Em qualquer País medianamente civilizado no campo institucional, nem a pergunta seria cabível tamanha a obviedade de um sim como resposta. Mas estamos no Brasil tão avacalhado depois do golpe de 2016…

É óbvio que a situação de Bolsonaro se agravou irremediavelmente diante dos cerca de 70% de brasileiros que o rejeitam. Mas não estamos, infelizmente, numa situação normal em vários campos.

Impeachment, sabemos, é um ato eminentemente político. E igualmente conhecemos que a atual composição do Congresso Nacional não tem compromisso majoritário com a Democracia ou mesmo com a moralidade.

A maneira mais óbvia de forçar a reversão disso seria –e em algum momento deve vir a ser– com manifestações massivas de rua, com forte mobilização popular. Mas o bom senso sanitário não recomenda por enquanto a chamada e realização de atos que reúnam multidões.

Como diziam os comunistas de antigamente, as condições objetivas para a ida ao asfalto estão dadas, mas a pandemia é obstáculo por enquanto.

Setores amplos da classe média urbana que toleravam Bolsonaro já se desencantaram com o ogro. A atuação criminosa no “combate” ao Covid-19 parece que riscou a linha de limite da paciência.

Hoje, Bolsonaro só conta (e também não é pouco) com cerca de 30% do eleitorado para sustentá-lo. É um absurdo até esse contingente diante da tragédia brasileira, mas em condições políticas normais, com desatinos em sequência como estamos sofrendo, esse terço não teria como segurar uma manifestação de revolta majoritária.

É verdade que uma parcela da elite aposta em governo sem Bolsonaro mas com a manutenção da política econômica delirante e excludente de Paulo Guedes. Mas, caso vingue uma onda de rua pelo fim do governo fascista, dificilmente será possível impor a mesma agenda de espoliação aos trabalhadores, principalmente os mais pobres.

Guedes já anunciou que, superada a pandemia, quer seguir nas privatizações e no mesmo caminho do neoliberalismo extremado. O plano não orna com momentos em que a população está na rua clamando por mudanças.

Bolsonaro ainda pode contar com uma eventual mão amiga do Judiciário, não se deve excluir também essa hipótese. Não se deve confiar em pendores subitamente democráticos do STF, por exemplo. Mas mesmo os ministros da Corte são suscetíveis ao barulho das ruas.

Em suma, nunca o governo fascista esteve tão fragilizado. Depois da trapalhada de Queiroz, até acena com menos loucura nas relações com Judiciário e Congresso. Mas falta combinar com o povo.

O pouco de gás que ganhou entre os mais pobres com o auxílio emergencial (triplicado no valor, aliás, pela oposição parlamentar) tende a minguar com o fim do benefício, que é totalmente incompatível com a tara fiscalista de Guedes.

Agora, é torcer que a incompetência genocida do governo não acumule mais mortes evitáveis de brasileiros pelo coronavírus e, depois, que a oposição saiba dar rumo político às inevitáveis manifestações pelo fim do desastre que empurra o Brasil para o abismo.

Basta! Chega de governo de milicianos!

 

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