Mais policiais chegam para reforçar operações que deixam alunos sem aula e impedem cidadãos de chegarem ao trabalho: muito dinheiro e pouca inteligência
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
Pá-pum. Na cápsula do tempo, é como se eu estivesse em fevereiro de 2018, quando sob nossas cabeças o Rio de Janeiro experimentou, a partir da prerrogativa de paz, a chegada das Forças Armadas para atuação ao longo de nove meses na gestão da segurança pública do estado. Só que tem um porém: apesar dos reflexos, não estamos mais em 2018, e sim em 2023. E se há cinco anos tínhamos os fardados de verde, agora temos novos atores, só que com outro uniforme.
A ação é coordenada e feita pelos mesmos princípios de antes. Basta que uma parcela da sociedade – abastada e de poder – se encontre pasma com a palavra ‘’violência’’ enquanto assiste o jornal do meio-dia, para que decisões emergenciais tentem estancar a sensação de vulnerabilidade no lares de CEPs caros.
Nesse verdadeiro levante, jorram pela torneira, além do discurso político calcado na proteção sob as armas, muito dinheiro e pouca inteligência. Os 150 agentes (dos 300 prometidos) chegam ao Rio a reboque das operações policiais que varreram os territórios da Maré, Penha, Alemão e Manguinhos. E nem mesmo há um plano sobre o que farão e onde farão.
Do outro lado da cidade, na semana passada, dois dias renderam ao arsenal da Polícia 47 fuzis e mais de 150kg de cocaína, em uma mansão de um condomínio na…Barra. Sentiu, Galvão? Mas, enquanto isso é anotado, helicópteros rasantes, mais conhecidos como ‘’caveirões voadores’’, além de drones, fazem que crianças e jovens deixem de ir para escola. Num levantamento feito pelo Maré de Notícias, os estudantes da favela já perderam 20 dias de aula neste ano. O impacto não para: cidadãos não saem para seus trabalhos, restritos aquilo que seria tido como uma vida ‘’normal’’ noutros cantos da metrópole e do estado.
A quem interessa, então, trazer a Força Nacional para o Rio? Talvez para aqueles que terão sob suas assinaturas o poder de gerir um total de R$ 247 milhões em recursos federais, sendo R$ 95 milhões depositados para a construção de presídios de segurança máxima, respondendo um pedido do governador Cláudio Castro.
Para dividir as agruras e pegar conselhos sobre como proceder no atual momento, o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, foi ouvir o ex-secretário de segurança pública do Rio, José Mariano Beltrame, sobre o contexto estadual. Em um post numa rede social, Capelli disse: ‘’Conhecer a experiência de quem já percorreu o caminho que estamos percorrendo é sempre importante. Unindo todos pelo bem do Rio’’.
Assim fica fácil discutir sobre segurança pública, não é mesmo? E nada muda, feijoada.