Por Adriana do Amaral, compartilhado de Construir Resistência –
Na terça-feira (28) um jornalista foi preso no Brasil. O juiz mandou deter, e os homens da lei apareceram sem avisar, em plena #pandemia, meses após tentativas frustradas de recursos. O crime? Difamação.
Especializado em esportes, principalmente o futebol, Paulinho, do #BlogdoPaulinho, desvela as mazelas da corrupção no #futebol brasileiro, os mandos e desmandos dos cartolas, a conivência dos clubes e até mesmo de algumas torcidas organizadas. Denuncia, inclusive, um complô entre juízes e promotores, que ele batizou como “juizado do torcedor” que, segundo ele, apresenta sentenças sempre favoráveis à parte mais forte.
Paulinho denuncia que o processo onde foi considerado réu foi formalizado com “graves irregularidades”, inclusive julgado por uma magistrada que não era a juíza natural do caso. Também, que os seus advogados foram “impedidos de recorrer, pois o STJ e o STF estão sentados diante de dois pedidos de recursos de revisão criminal”.
O Construir Resistência acompanha a saga de Paulinho por #justiça há meses. Hoje, solidarizamos com ele, que vive a #pandemia em situação de cárcere.
Uma voz se cala, dando voz a muitos interesses, no mínimo, escusos. Um jornalista que foi condenado por “crime de injúria”, pela vara comum enquanto realizava o seu trabalho.
Acabo de ser preso pela Polícia de São Paulo
Paulo Cézar de Andrade Prado, o Paulinho, há 14 anos escreve sobre os bastidores do futebol. Costuma ser fonte até mesmo para a imprensa especializada. Antes de ser preso ele anunciou a manchete no próprio blog, onde publicou um vídeo onde relata a sua versão da história, da publicação da reportagem que levou ao processo e os detalhes, dando nomes aos bois (veja gravação no final da matéria).
Paulinho teria o direito de cumprir a sentença em regime semiaberto, mas em São Paulo não há essa possiblidade, foi levado à cárcere. Ele conta que o juiz Marcos Vieira de Moraes argumentou “não existirem indícios que a transmissão do #coronavirus seja maior na cadeia do que em liberdade”. “Em que mundo ele vive?”, questionou.
Não é a primeira, mas a terceira vez que o jornalista é condenado por “supostos crimes de opinião” e nem é a primeira vez que é preso em cadeira de segurança máxima. Isso, por exercer a sua função de jornalista. Segundo ele, “sentenças de vingança patrocinadas por aqueles que tiverem os maus feitos revelados” no blog.
“Convenhamos, prender por crime e opinião em pleno regime democrático é uma aberração. superada apenas, talvez. por alguns trâmites processuais…” desabafou. Paulinho esperava ser preso, mas tentou à exaustão a sua liberdade.
Segundo ele, as federações, associações e sindicatos representativos dos jornalistas e imprensa livres precisam pressionar os congressistas visando Projetos de Lei voltados para a #liberdadedeimprensa e que impeçam que jornalistas sejam julgados na esfera civil, por crimes contra a honra, quando na verdade estão denunciando e fazendo o seu trabalho investigativo. “Muitos colegas de profissão serão levados a cadeia nesse momento em que vivemos”, projeta.
A #ABI posicionou-se em nota, assinada por seu presidente, Paulo Jeronimo:
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) repudia a prisão, se solidariza com Paulo César de Andrade Prado, e pede celeridade ao julgamento dos recursos apresentados aos tribunais superiores. É importante destacar que, em abril deste ano, a ABI entrou com a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 826, no STF, com o objetivo de evitar, entre outras questões, que o sistema penal seja utilizado para cercear o direito de crítica, o exercício do jornalismo e, até mesmo, para prisões absurdas como a do blogueiro Paulinho.