A quem interessa a “oposição de esquerda” ao governo Lula?

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Li com preocupação uma matéria sobre a entrevista que o filósofo e professor Vladimir Safatle deu à TV 247. Intelectual conceituado, Safatle é candidato a deputado federal pelo PSOL de São Paulo.

Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog




Antes mesmo de uma eleição que nem está ganha, ele, embora apoie Lula, promete fazer “oposição de esquerda” ao futuro governo, caso seja eleito deputado dentro de 13 dias.

Quadro político preparado, é impossível que Safatle não tenha a dimensão do caráter temerário desta posição que, na prática, contribuiria para o enfraquecimento do governo Lula longo em seu nascedouro.

Ao criticar a campanha de Lula pelo seu tom moderado e falta de radicalismo (o professor chega a dizer que o ex-presidente não perderia um voto sequer se adotasse um discurso radical), Safatle despreza o que é essencial na conjuntura de trevas atual: somar o maior número possível de forças políticas para derrotar o fascismo.

Já imaginou qual seria o destino da humanidade caso Stálin se negasse a se aliar aos líderes de potências capitalistas, como Roosevelt e Churchill, para derrotar Hitler? O presidente dos EUA e o primeiro-ministro do Reino Unido, se não fizessem a leitura correta do que estava em jogo, também teriam motivos de sobra para rejeitar uma aliança com o fantasma do comunismo encarnado pela União Soviética.

O problema maior de posturas esquerdistas é a falta de sintonia com a correlação de forças na sociedade. Como, então, falar em fazer oposição de esquerda quando, sabemos todos, o governo Lula terá uma forte oposição de extrema-direita liderada por um descerebrado fascista?

A Lula, por óbvio, caberá a tarefa civilizatória da reconstrução de tudo que o tsunami bolsonarista levou de roldão. Será preciso repor o que restou devastado em termos de direitos sociais, políticos e civis. Em destroços, urge também socorrer os órgãos de monitoramento e fiscalização do meio ambiente, retomar uma política externa ativa e altiva, lançar uma boia de salvação para a nossa cultura e retomar os projetos educacionais vitoriosos dos governos petistas anteriores.

Em paralelo, gerar emprego e renda, retomar a política de valorização real do salário mínimo e combater a carestia criminosa do preço dos alimentos, certamente estarão entre as prioridades de curto prazo de Lula.

Tudo isso, tendo que reverter uma dos mandamentos sagrados do mercado, que é o teto de gastos, em um cenário econômico-financeiro de terra arrasada, depois que Bolsonaro arrombou os cofres públicos com um sem número de medidas eleitoreiras.

Torço para que a pregação esquerdista do professor Safatle não encontre eco no seu partido.

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Não engana ninguém

Para além de uma bravata típica de candidatos que caminham para a derrota, as declarações de Bolsonaro de que vencerá a eleição no primeiro turno são mais um adubo para seu terreno golpista. Bem simples: dizer que vai ganhar no primeiro turno, contrariando a lógica e todas as pesquisas, serve para atiçar seu gado, para o passo seguinte, que é o questionamento do resultado da eleição.

Motivo de festa

Segundo as pesquisas, serão derrotados nas eleições vários símbolos das trevas bolsonaristas. Hamilton Mourão tenta o Senado pelo Rio Grande do Sul, mas está atrás de Olívio Dutra e Ana Amélia. Onix Lorenzoni, que concorre ao governo do mesmo estado vê o candidato tucano Eduardo Leite abrir uma vantagem cada vez maior. E Damares, a senhora que viu Jesus na goiabieira, deve perder a eleição para o Senado, no Distrito Federal, para Flávia Arruda.

E o bispo, hein?

Se forem verdadeiros os rumores de que o bispo Macedo, dono da Igreja Universal dos Reno de Deus, está se afastando de Bolsonaro, o capitão sofrerá um duro golpe nesta reta final de campanha eleitoral. Não que os pastores da Iurd deixarão, de repente, de demonizar a esquerda em seus cultos, mas Bolsonaro contava com a máquina da Universal. É o preço que pagam os candidatos sem expectativa de poder.

Dormindo com o inimigo

Pelo visto, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, liberou geral para as forças amadas em relação à organização da eleição. Balanço divulgado pelo próprio tribunal mostra que nada menos do que 12 dos 15 pedidos feitos pelos militares até agora foram acatados. Diferentemente de Edson Fachin, o presidente anterior que mantinha os fardados em seus devidos lugares, Moraes abriu a porteira. Depois não reclama.

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