A quem interessava o silêncio da Força Tarefa da Lava Jato na reta final da campanha de 2018?

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Publicado em Viomundo – 

Na mais recente divulgação de mensagens trocadas entre procuradores do Ministério Público Federal, integrantes ou não da Lava Jato, há críticas ao repentino silêncio da Força Tarefa durante a campanha eleitoral de 2018.

Uma delas partiu da procuradora Jerusa Viecili, de Porto Alegre.

Ela manifestou preocupação, por exemplo, quanto às ameaças de candidatos ao Planalto de não respeitar a lista tríplice na nomeação do futuro Procurador Geral da República.




Os presidente Lula e Dilma Rousseff sempre indicaram os primeiros colocados na lista votada por procuradores de todo o Brasil.

Embora Jerusa não tenha nomeado os “candidatos” a que se referia, Jair Bolsonaro disse durante a campanha eleitoral que não necessariamente respeitaria listas tríplices em suas indicações.

“Mais grave, ainda, assistirmos passivamente, ameaças à liberdade de imprensa quando nós somos os primeiros a afirmar a importância da imprensa para o sucesso da Lava Jato”, acrescentou a procuradora na mensagem.

Jerusa escreveu ainda que não gostaria de ver a Lava Jato como “co-responsável pelos acontecimentos eleitorais de 2018”.

A mensagem é de 25 de outubro de 2018, faltando cerca de 72 horas para o segundo turno das eleições, disputado entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

Alguns dias depois, com Bolsonaro já eleito, o vice-presidente Hamilton Mourão confirmou que a sondagem ao juiz federal Sérgio Moro, estrela da Lava Jato, para se tornar ministro da Justiça, havia ocorrido entre o primeiro e o segundo turno das eleições.

O convite informal aconteceu depois de uma decisão de Moro que claramente prejudicou o candidato do PT, Fernando Haddad, e beneficiou Jair Bolsonaro.

Faltando seis dias para o primeiro turno, Moro havia vazado trechos da delação não homologada do ex-ministro Antonio Palocci, com graves acusações ao PT, Lula e Dilma Rousseff.

À época, justificou-se: “Ninguém está sendo processado ou julgado por opiniões políticas. Há sérias acusações por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Se são ou não procedentes, é questão a ser avaliada na sentença. Terá a defesa a oportunidade de apresentar todos os seus argumentos nas alegações finais, mas a farsa da invocação de perseguição política não tem lugar perante este juízo”.

De acordo com o Intercept, no dia seguinte à sua primeira mensagem, em 26 de outubro de 2018, a procuradora Jerusa Viecili insistiu: “Já desvirtuam o que falamos contra a corrupção ser a favor do Bolsonaro.  mas não vou mais insistir. o fato é que a FT [Força Tarefa] sempre comentou tudo (desde busca e apreensão em favela, lei de abuso de autoridade, anistia, indulto, panelinha, etc …) e agora não comenta independencia do MP, liberdade de imprensa e BA [busca e apreensão] em universidade”.

A referência às universidades faz sentido.

Entre os dias 23 e 25 de outubro de 2018, a Justiça Eleitoral realizou operações de busca e apreensão em universidades públicas de nove estados brasileiros, sob o argumento de que campanhas político-partidárias estariam acontecendo nos campi.

O candidato Haddad tinha forte apoio entre estudantes de universidades públicas, especialmente as que foram criadas pelo ex-presidente Lula.

Além disso, os campi se transformaram em centros de rejeição às ideias neofascistas que Bolsonaro expressou ao longo de sua carreira, além das promessas de campanha.

A ação da Justiça Eleitoral, violadora da autonomia universitária, da liberdade de expressão e do direito de reunião, sofreu forte rejeição mesmo em setores conservadores da sociedade.

A Força Tarefa da Lava Jato não publicou nota sobre a ação nas universidades, embora anteriormente, como lembrou a procuradora Jerusa Viecili, tivesse condenado o projeto da lei do abuso de autoridade e o indulto de Natal, previsto na Constituição Federal e prerrogativa do presidente da República, não do Judiciário.

A Lava Jato calou-se para evitar que críticas a determinadas ações pudessem prejudicar o candidato antipetista?

A quem interessava o silêncio da Força Tarefa quando Bolsonaro e Haddad disputavam o Planalto?

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