A realidade se apossa da ficção

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Ulisses Capozzoli em sua página no Facebook – 

Em 1994 cobri para o jornal “ O Estado de S. Paulo” a primeira conferência das partes.




Realizada pela ONU, em Berlin, envolvendo aquecimento global & mudanças climáticas.

No retorno, escrevi um suplemento sobre o que havia visto.

Ouvido, entrevistado e documentado.

Um colega, cético quanto ao que não deve nutrir ceticismo, provocou:

─ Acho que você anda lendo muita ficção científica.

Cenários como o incêndio que afetou Portugal, neste fim de semana eram e continuam cenas previstas por aquecimento global e efeito estufa.

Um cenário, em meio a um conjunto amplo e complexo.

Que inclui temporais destruidores, mudança de condições para a produção de alimentos, espalhamento de doenças antes endêmicas (malária entre elas).

E mesmo elevação de turbulências em viagens aéreas.

Ficção científica?

A resposta a essa questão dependa do que se entende por “ficção científica”.

Quando ainda era papa (1978-2005) João Paulo II pediu a Deus sensibilidade para um desses incêndios que já ardiam no norte de Portugal.

Os jornais de todo o mundo publicaram o pedido do papa com chamadas na primeira página.

O papa, supostamente, teria & continua tendo legitimidade para essa intervenção.

Se um pajé do Xingu dançar pedindo chuva, para aplacar as chamas & a produção de alimentos, no entanto, os jornais dirão que ele é um “selvagem”.

Sem a mais elementar noção do que seja Deus.

O Deus dos “brancos”.

Tenho minhas crenças pessoais quanto a religiosidade.

E estou cada vez mais convencido do que chamo de “instância da criação”.

A evidência disso?

Estamos todos aqui. Eu que alinho essas palavras com descrença crescente na racionalidade humana.

E você que, eventualmente lê esse curto escrito.

Em meio a outros quase 7,4 bilhões de pessoas no mundo.

Uma parte significativa, desses 7,4 bilhões, formada por não-pessoas, para ser preciso.

Marginalizados em tudo que deveria lapidar um humano.

Alguém já me perguntou:

─ Mas a sua instância da criação, não seria Deus?

Se alguém quiser chamar de Deus, não vejo problema.

Mas, se me perguntarem o que é, digo que não tenho a mínima ideia.

O único que creio é que se trata de algo sem a mínima forma humana.

Antropomorfizar a natureza de Deus é só uma tentativa de dar forma conhecida. A algo que é o grande desconhecido.

Boa parte dos nativos americanos tinham em comum a expressão “Grande Espírito” para se referir à divindade, o que prosaicamente chamamos de Deus.

E em nome de quem humanos, já miseráveis, são espoliados moral e economicamente por uma multidão de patifes que se autoproclamam os elos entre a Terra e o Céu.

Padres, pastores, bispos & uma enorme diversidade de impostores & imposturas.

Rupert Sheldrake, filósofo da ciência britânico, chama de “dessacralização da natureza” uma atitude que, na essência, é uma alienação completa sobre o sentido da vida.

Em Portugal, onde o dinheiro passou a ser visto como o item mais importante da vida, castanheiras, entre outras árvores nativas, são substituídas por eucaliptos e coníferas.

De demanda econômica rentável & crescente.

Mas também de rápida e fácil combustão.

Refiro-me ao grande incêndio, que ainda queima.

Como metáfora da falta de sentido de vivermos na Terra.

Essa terceira pedra do Sol.

O “Grande Espírito” cada vez mais acuado.

Pela febre da posse, do dinheiro imediato & inescrupuloso.

Seja ele da maneira que for.

Entre nós, Michel Temer, o usurpador presidente da República, a escumalha humana, é a imagem mais repugnante desse significado profundamente vil.

Da degeneração que afeta o estômago, por pura repulsa.

Ficção científica?

Não creio. É outra coisa.

A substituição da realidade pela ficção.

Que faz a ficção, tomar ares da mais insuspeita realidade.

Com a concordância & complacência quase generalizada.

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